20071130

.


.










Começo de Inverno -

árvores, vivas e mortas,
já não se distinguem
































Por entre os milhares
de insectos a zumbir,
um deles fora de tom.

















Mesmo em dia assim,
de céu e terra parados,
as formigas correm.



































Rebento de bambu
a irromper da bainha -
um guerreiro em armas.

















Tal como espantalhos
solitários e fascinantes -
minhas irmãs monjas
















À espera da Primavera -
presas debaixo de gelo,
de lixo e de entulho.






















Um campo de trevo -
as rodas da carruagem
rangem ao luar















Paz e silêncio -
vinda da chuva, a borboleta
entra no meu quarto


















Como um peixe no mar,
este meu corpo está fresco
à luz da lua




























A mãe e o filho

à noite, jogando cartas -
a raposa uiva.










Para a lua fria
ascende a grande fogueira,
chama sobre chama.










O tufão passou -
um homem perto da morte
a dormir tranquilo.














----------------------------

in "Japão no femenino 2. Haiku séculos XVII a XX".

20071129

0 children




"Indiferente do leitor ser cristão, islâmico, evangélico ou ateu, “O Children” é a canção com que algum Deus irá receber todos seus filhos. Pecadores ou não, merecedores desse cantinho (o paraíso) ou não. Nick Cave e as ovelhas Bad Seeds entrelaçam beleza ao extremo e constróem a canção perfeita. Alguém estará na entrada do Céu segurando uma caixa de som e a sublime “O Children” será a trilha sonora."








http://www.poppycorn.com.br/artigo.php?tid=899










Pass me that lovely little gun
My dear, my darting one










Forgive us now for what we've done
It started out as a bit of fun
Here, take these before we run away
The keys to the gulag










They're mopping up the butcher's floor
Of your broken little hearts

O children














We have the answer to all your fears
It's short, it's simple, it's crystal dear
It's round about, it's somewhere here
Lost amongst our winnings













He's found the answer that was lost
We're all weeping now, weeping because
There ain't nothing we can do to protect you

O children

20071127

Dispersos ("vou andando por aí sobrevivendo à bebedeira [de azul] e ao comprimido [vermelho]")




















6. Jorge de Sousa Braga








LADAINHA


Concha perfumada
Pórtico real

Princesa das flores

Porta misteriosa

Pérola vermelha

Coração de peónia

Pegada de gazela

Pórtico de jade

Palácio de púrpura

Delta negro

Pote de mel

Botão de lótus

Gruta de canela

Porta alada

Flor da lua


Rogai por nós












Ofereci-te o Porto Seguro do Jorge de Sousa Braga. Imagino que os versos te percorrem agora as veias e a pele, e te tingem alguns pedaços de sonho. Talvez te façam sentir mais mulher, talvez mais menina. Talvez me odeies por te fazer sentir essas coisas ao oferecer-te um livro, talvez apenas sintas tremores. Tenho a esperança que sejas comida pelo livro. Sei que a sua digestão de ti vai ser longa como a das gibóias. Os Homens e as Mulheres são comidos pelo espírito das palavras, a poesia, a filosofia, e da sua digestão nascem anjos com sexo e de pés nús na terra, mente nas estrelas e olhos no caminho.

Os bixos não, os bixos não são comidos pelos livros,
os bixos comem-se uns aos outros,
e são comidos por outros bixos maiores ou mais matreiros, depois de cairem nas suas armadilhas.
E da sua digestão não resultam anjos com sexo, nem com os pés nús no chão, nem com a mente nas estrelas, nem com os olhos no caminho. Da digestão dos bixos pelos bixos resultam: mais uns dias de vida para os bixos que comem os outros, e fezes.























5. Beowulf. A Mãe de Grendel




Grendel's mother and Modthryth are also sometimes juxtaposed as representative of "monster-women." In this context, Jane Chance Nitzsche (Professor of English, Rice University) argued for similarities between the juxtaposition of Wealtheow and Grendel's mother to that of the Virgin Mary and Eve (1980, 1986).

Scholars have debated the nature of Grendles modor since the rise of second-wave feminism in the 1970s. Grendel's mother is something of a conundrum to scholars, in large part because of the description of her descent as from the biblical Cain, who was the first murderer in Abrahamic religions. For some scholars, this justifies a monstrous appearance. For others, it implies that Grendel's mother is a marginal (rather than monstrous) figure, since she bears the curse and mark of Cain.

Up until the late 1970s, all scholarship on Grendel's mother and translations of the phrase "aglæc-wif" were influenced by the noted Beowulf scholar Frederick Klaeber and his translation Beowulf and the Fight at Finnsburg. According to Klaeber's glossary, "aglæc-wif" translates as: "wretch, or monster of a woman." Klaeber's glossary also defines "aglæca/æglæca" as "monster, demon, fiend" when referring to Grendel or Grendel's mother.

On the other hand, "aglæca/æglæca" is translated by Klaeber as "warrior, hero" when referring to the character, Beowulf. Klaeber has influenced many translations of Beowulf. Notable interpretations of line 1259a which follow Klaeber include, "Monstrous hell bride" (Heaney), "Monster-woman" (Chickering) "Woman, monster – wife" (Donaldson), "Ugly troll-lady" (Trask) and "Monstrous hag" (Kennedy). He has also influenced most scholarship on Beowulf. Critic Adrien Bonjour, who in his 1949 essay, "Grendel's Dam and the Composition of Beowulf," popularized the use of "Dam" for "mother" (where the Oxford English Dictionary defines, "Dam" as a "female parent (of animals) [...] mother (human): usually in contempt").

In 1979, Beowulf scholars Kuhn and Stanley argued against Klaeber's reading of Grendel's mother. He continued the argument by stating that, "I suggest, therefore, that we define aglæca as 'a fighter, valiant warrior, dangerous opponent, one who struggles fiercely.'" ) Kuhn further suggested that, "Grendel's mother was an 'aglæc-wif', 'a female warrior' [...] There is no more reason to introduce the idea of monstrosity or of misery here than there is in line 1519 where she is called merewif, defined simply as 'water-woman', 'woman of the mere.'"

These arguments were supported by Christine Alfano (Lecturer in English, Stanford University), who stated in her 1992 article, "The Issue of Feminine Monstrosity: A Reevaluation of Grendel's Mother" that: "I find a noticeable disparity between the Grendel's mother originally created by the Beowulf poet and the one that occupies contemporary Beowulf translations. Instead of being what Sherman Kuhn calls a 'female warrior,' the modern Grendel's mother is a monster. This assumption informs almost all areas of Beowulf scholarship, although there is little evidence for this characterization in the original Anglo - Saxon work."


Seamus Heaney, in his noted 2001 translation of Beowulf, compared Grendel's mother to an "amazon warrior"





Texto completo em:
http://en.wikipedia.org/wiki/Grendel's_mother

http://repositories.cdlib.org/cgi/viewcontent.cgi?article=1153&context=cmrs/comitatus


















4. Crianças Abusadas









We're all weeping now, weeping because

There ain't nothing we can do to protect you

O children
Lift up your voice, lift up your voice
Children

Rejoice, rejoice









outra vez, outra vez, outra vez. Merda quando vão os filhos da puta ser apanhados, castigados, obrigados a mostrar a cara, a pedir perdão, a reparar a maldade que espalham, a pensar no que fizeram e no que lhes fizeram para fazer isto, quando é que esta merda vai acabar?







Hey little train! We are all jumping on
The train that goes to the Kingdom
We're happy, Ma, we're having fun
It's beyond my wildest expectation



(Canção: Nick Cave, "O Children")




















3. Tablao do Fado, com Cidália Moreira, uma encenação de Amálgama Companhia de Dança



Dançar
o fado docemente entrelaçado no flamenco...
Encontrar a alma que vive de boca em boca, de peito em peito, deambulando de guitarra em guitarra e de corpo em corpo. Essa alma como um destino flamejante, um nó fraterno e original que se une num abraço quase esquecido por ser tão antigo e tão primeiro. (...)























2. Terrakota



Isto é musika. Obrigado G.




















1. Churrasqueira Santa Cruz

Passámos à fase final do europeu. É bom ter sido banal. Quer dizer que já somos maiores do que o nosso futebol,
É bom que seja banal ser finalista, quer dizer que o nosso futebol é finalmente dos maiores do mundo, e que nós finalmente somos maiores do que ele.

20071121

Ela dá-me beijos E papas de leite Faz-me um chapeuzinho Com as nuvens do céu. Põe na minha boca A cara de seda E canta comigo Para eu não chorar.














Não chores, não chores, Com os olhos em mim. Toma mel, menininha, Eu vou dar-te beijos e papas de leite, Muitos mimos e doces para comprares por ti.
Hás-de rir pela rua Mais alto que eu A crescer sozinho.
Ela dá-me beijos E papas de leite E boas razões Para me ter nascido.























No bairro do amor cada um tem que tratar Das suas nódoas negras sentimentais























As redes são passageiras, as arquitecturas da fuga De toda a água que corre, de todo o vento que passa. Quando uma teia se rasga ergo à lua a minha taça E vejo nascer no espelho mais uma ruga. Quando o tecto se escancara e se confunde com a lua. A apontar-me o caminho melhor do que qualquer estrela, Ninguém me faz duvidar que foste sempre a mais bela. Por favor, diz-me que és alguém, de novo? Quando a janela se fecha e se transforma num ovo Ou se desfaz em estilhaços de céu azul e magenta E o meu olhar tem razões que o coração não frequenta















O meu amor ensinou-me a partir Nalguma noite triste. Quando as mãos ficam rijas e a alma se esconde E fica entrincheirada Entre o ódio e o amor. Esse curioso alambique Onde são destilados Noite e dia o choro e o riso. Deixa-me rir, Mal eu sabia Que a vida rouba os sonhos. Mal eu sabia Que o mundo nos desmama De paixões surdas, Cava na cara Sulcos secos. Mulher feita, Faz-te fêmea, Ama-te a ti mesma. O mundo espera Cheio de tudo. Come-o, feliz, sã, gloriosa, cheia. podes ser quem tu és.



Abre bem os olhos, escuta bem o coração, se é que queres ir para lá morar






Essa miúda é uma fogueira Que te acende as noites em qualquer lugar. E tu desejas arder com ela Enquanto bebes o perfume Que ela deita nos seus trapos de côr Para te embriagar. Essa miúda é um exagero, Diz que sem ti não sabe voar. E tu adoras voar com ela, E enquanto inventas espaços novos Ela vai arquitectando uma teia Para te aconchegar. Essa miúda faz-te acreditar Que o Sol é um presente Que a aurora traz Principalmente para ti. Essa miúda é uma feiticeira: Prende-te a mente e põe-se a falar, E tu bem tentas compreendê-la Mas o que sai da sua boca Não parece condizer com o que ela Te diz com o olhar.

Essa miúda faz-te acreditar Que o Sol é um presente Que a aurora traz Principalmente para ti.













Quantas vezes te odiei com medo de te amar...Vê como o Sol brilha hoje, Odeio ver-te sempre de luto. Gostava de ver o teu olhar enxuto. Ser o teu mestre só por um instante, Iluminar o teu refúgio, Aquecer-te essas mãos, Rasgar-te a máscara sufocante. Somos meros transeuntes no passeio dos prodígios. Pode ser que, por milagre, troquemos as voltas aos deuses. o Sol parece maior E há ondas de ternura em cada olhar. Quando o teu cheiro me leva às esquinas do vislumbre. E toda a verdade em ti é coisa incerta e tão vasta. Quem és tu, na imensidão do deslumbre? Por favor diz-me quem és tu, de novo?


Se alguma vez te parecer ouvir coisas sem sentido não ligues, sou eu a dizer, que quero ficar contigo e apenas obedeço com as artes que conheço ao princípio activo que rege desde o começo
e mantém o mundo vivo




Ela tem de chorar Com as dores de crescer. Que sonhos terá Nas primeiras noites Quando me chamar Pelo nome dela?


Porque nunca foi a ambição, nem a vingança, que o levou a desprezar a lei, E jamais lhe passou pela cabeça tentar alterar a Constituição. Como um poeta ele desarranja o pesadelo para lá dos limites legais, Foragido, por amor ao que é belo, e por vocação. Todos nós pagamos por tudo o que usamos, O sistema é antigo e não poupa ninguém, não. Somos todos escravos do que precisamos






















-------------------------
Texto: a partir das letras de:
O meu amor
Eram duas amigas
Disse fêmea
Essa miúda
Minha senhora da solidão
Deixa-me rir

Passeio dos Prodígios

O Bairro do Amor

Na Terra dos sonhos

Quem és tu de novo

Beijos e papas de leite
Jeremias o fora da lei
Agente vai continuar

20071119





Perdi as visitas de D. Lama, dos Type 0 Negative, dos Police, do Cirque do Soleil, já para não falar dosMassive Attack porque não quero falar disso (que até me dá vontade de enforcar os pulsos)
mas este
(como o Jorge Palma para o qual a malta já tem um camarote reservado no Coliseu, e os Corvus Corax que já cá cantam literalmente)

não escapou,

graças a um sms providencial a altas horas da V.
Chegava eu ao Estoril, vi um personagem mítico que eu já pensava que não existia realmente e que era uma criação da parte negra de Hollywood, a acender um cigarro branco e a andar pela rua com um sobretudo azul escuro e o Paulo Branco atrás. Entretanto a P., namorada do R. fez um mestrado sobre o Mulholland drive e acabámos por ter uma excelente conversa a comer tostas mistas especiais, e a beber cafés e cacaus frente ao mar do Tamariz.
Conclusão da manhã: o Lynch é muito boa onda e está cada vez mais forte. Blessed Be.