20060926

esta noite sonhei que era um rio.






Um rio pequenino, é certo, que nada mais conhecia além das montanhas onde nascia, dos amieiros e dos juncos que nele se debruçavam.

Como todos os rios, o que eu mais ardentemente desejava era desaguar.
Comecei a perguntar onde ficava o mar, mas ninguém me sabia responder. Apontavam-me com um gesto vago ora o este, ora o oeste.
[...]

Uma noite em que estava acampado entre as dunas cheguei finalmente a uma conclusão (a mesma a que todos os rios chegaram talvez antes de mim): o mar não existia.




(e essa conclusão era salgada.)



















texto: Jorge de Sousa Braga, in "o poeta nú", pagina 107.
photo: Ben Heys

6 comments:

Anonymous said...

É tão difícil guardar um rio
quando ele corre
dentro de nós

Jorge de Sousa Braga, in "O Poeta Nu", pág. 111

beijo aquático...

1.01 said...

subo o teu rio até à nascente,
na canoa da linguagem
e o corpo desagua no teu vôo de cascata

uma fonte de aguardente espera-me nas margens com que me chamas

o azul do fogo é fresquíssimo. encendeiam-se as memórias submersas.
percorro-te o caudal com jangadas nos dedos
e tempero a minha carne a sal lunar

1.01 said...

nhau! rooon (claro)

Lara said...

estamos todos a falar em linguagem "poética"??? ai que não tenho jeito!

é só para dizer qe tá lindo, como voces!

tenho saudades de ambos

jokasssssssssssss

Woman said...

Tão salgado que dói quando passa por feridas abertas...

Beijos, que saudades...

1.01 said...

que saudades digo eu! estava a ficar sériamente inundado pela uma subida das águas (amargas) da preocupação.

quando era pequeno e fazia uma ferida diziam-me para ir lavar com água do mar.

as lágrimas são muito referidas em lendas e contos imemoriais, quando se trata de curar feitiços e maldições...
tanto as lágrimas como o

beijo