Para distinguir aquilo que é bem daquilo que é mal, os teólogos moisaicos, budistas, cristãos e muçulmanos recorreram à inspiração divina. Viram que o homem, fosse selvagem ou civilizado, perverso ou bom e honesto, sabia sempre se agia bem ou se agia mal; mas, não encontrando explicação para este facto geral, viram nele uma inspiração divina. Os filósofos metafísicos falaram-nos por sua vez de consciência, de imperativo místico, o que nada mais era do que uma modificação de palavras.
Porém nem uns nem outros souberam constatar o facto tão simples e tão surpreendente de que os animais que vivem em sociedade também sabem distinguir o bem e o mal, tal como o homem. E mais do que isso, que as suas concepções sobre o bem e o mal são absolutamente do mesmo gênero que as do homem.
Os pensadores do século XVIII tinham-no visto claramente, mas isso foi depois esquecido, cabendo-nos aagora a nós sublinhar a importância deste facto
...
Poder-se-iam citar milhares de factos similares. Poder-se-iam escrever livros inteiros para mostrar quão idênticas são as concepções do bem e do mal no homem e nos animais.
A formiga, o pássaro, a marmota e o Tchouktche selvagem não leram Kant nem os santos padres, nem mesmo leram Moisés.
A ideia de bem e de mal nada tem a ver, portanto, com a religião ou com uma consciência misteriosa; trata-se de uma necessidade natural de espécies animais. E quando os fundadores das religiões, os filósofos e os moralistas nos falam de entidades divinas ou metafísicas, nada mais fazem do que reexaminar aquilo que cada formiga, cada pardal, cada marmota, pratica nas suas pequenas sociedades
...
E, se quiséssemos resumir toda esta filosofia do reino animal núma única frase, veríamos que formigas, pássaros, marmotas e homens encontram-se de acordo num ponto.
"Faz aos outros aquilo que quererias que te fizessem a ti nas mesmas circunstâncias"
Sem isso, nenhuma sociedade poderia existir, nenhuma espécie poderia vencer os obstáculos naturais contra os quais tem de lutar. *
* Piotr Kropotkine in "A Moral Anarquista"
Porém nem uns nem outros souberam constatar o facto tão simples e tão surpreendente de que os animais que vivem em sociedade também sabem distinguir o bem e o mal, tal como o homem. E mais do que isso, que as suas concepções sobre o bem e o mal são absolutamente do mesmo gênero que as do homem.
Os pensadores do século XVIII tinham-no visto claramente, mas isso foi depois esquecido, cabendo-nos aagora a nós sublinhar a importância deste facto
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Poder-se-iam citar milhares de factos similares. Poder-se-iam escrever livros inteiros para mostrar quão idênticas são as concepções do bem e do mal no homem e nos animais.
A formiga, o pássaro, a marmota e o Tchouktche selvagem não leram Kant nem os santos padres, nem mesmo leram Moisés.
A ideia de bem e de mal nada tem a ver, portanto, com a religião ou com uma consciência misteriosa; trata-se de uma necessidade natural de espécies animais. E quando os fundadores das religiões, os filósofos e os moralistas nos falam de entidades divinas ou metafísicas, nada mais fazem do que reexaminar aquilo que cada formiga, cada pardal, cada marmota, pratica nas suas pequenas sociedades
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E, se quiséssemos resumir toda esta filosofia do reino animal núma única frase, veríamos que formigas, pássaros, marmotas e homens encontram-se de acordo num ponto.
"Faz aos outros aquilo que quererias que te fizessem a ti nas mesmas circunstâncias"
Sem isso, nenhuma sociedade poderia existir, nenhuma espécie poderia vencer os obstáculos naturais contra os quais tem de lutar. *
* Piotr Kropotkine in "A Moral Anarquista"
Esta "fecundidade da vontade", esta sede de acção, quando acompanhada apenas por uma sensibilidade pobre e por uma inteligência capaz de criar, não proporcionará certamente mais do que um Napoleão Bonaparte ou do que um Bismarck - loucos que queriam fazer com que o mundo girasse ao contrário.
Por outro lado, uma fecundidade de espírito privada de uma sensibilidade bem desenvolvida dará os seus frutos secos (os eruditos). E por último, a sensibilidade não guiada por uma inteligência suficientemente vasta produzirá essas mulheres dispostas a sacrificar tudo por um bruto qualquer no qual depositam todo o seu amor.
Para ser realmente fecunda, a vida deve sê-lo em inteligência, em sentimento, e em vontade. a um só tempo. Mas, neste sentido, a fecundidade em todas as direcções é a vida: a única coisa que merece este nome. Sem esta vida transbordante, nada mais se é do quem um idoso antes do tempo, um impotente, uma planta que ficasse ressequida sem nunca ter florido.
[...]
Actualmente ouve-se dizer com frequência que se troça do ideal. É compreensível Confundiu-se muitas vezes o ideal com mutilação budista ou cristã; também se utilizou muitas vezes esta palavra para enganar os ingénuos, afirmou-se que a reacção é necessária e salutar. Também nós gostariamos de substituir a palavra "ideal", tão coberta de nódoas por uma nova que estivesse mais de acordo com as ideias recentes.
Mas, seja qual for a palavra, o facto existe: cada ser humano tem o seu ideal. Bismarck tem o seu, por mais fantástico que seja: a governação a ferro e fogo. Cada burguês tem o seu, mesmo que seja a banheira de prata do primeiro-ministro Gambetta, o cozinheiro Trompette e muitos escravos para pagar Trompette e a banheira sem grandes problemas.
Mas, a par destes, encontra-se o ser humano que concebeu um ideal superior. Uma vida de bruto não pode satisfazê-lo. Revoltam-no o servilismo, a mentira, a falta de boa-fé, a intriga, a desigualdade nas relações humanas. De que modo poderá ele tornar-se por sua vez servil, mentiroso, intriguista, dominador?
Ele entrevê quão bela seria a vida se existissem melhores relações entre todos; sente força para conseguir estabelecer tais relações com aqueles que venha a encontrar no seu caminho.
De onde vêm este ideal? Moldar-se-há pela hereditariedade, por um lado, e pelas impressões de vida, por outro? Não o sabemos. Mas ele existe: variável, progressivo, aberto às influências vindas do exterior, sempre vivo. Trata-se de uma sensação - em parte inconsciente - daquilo que nos dará a maior soma de vitalidade, a fruição de ser.
Pois bem, a vida somente é vigorosa, fecunda, rica em sensações, soba condição de responder a essa sensação do ideal. Se vós agirdes contra esta sensação ela já não será una, perderá o seu vigor. Se faltardes com frequência ao vosso ideal, acabareis por paralisar a vossa vontade, as vossas forças de acção. Em breve acabareis por não encontrar este vigor, esta espontaneidade de decisão que havíeis possuído outrora. Sois um ser despedaçado.
Nada de misterioso há nisto se considerardes o homem como um composto de centros nervosos e cerebrais, agindo independentemente*
* Piotr Kropotkine in "A Moral Anarquista"
Por outro lado, uma fecundidade de espírito privada de uma sensibilidade bem desenvolvida dará os seus frutos secos (os eruditos). E por último, a sensibilidade não guiada por uma inteligência suficientemente vasta produzirá essas mulheres dispostas a sacrificar tudo por um bruto qualquer no qual depositam todo o seu amor.
Para ser realmente fecunda, a vida deve sê-lo em inteligência, em sentimento, e em vontade. a um só tempo. Mas, neste sentido, a fecundidade em todas as direcções é a vida: a única coisa que merece este nome. Sem esta vida transbordante, nada mais se é do quem um idoso antes do tempo, um impotente, uma planta que ficasse ressequida sem nunca ter florido.
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Actualmente ouve-se dizer com frequência que se troça do ideal. É compreensível Confundiu-se muitas vezes o ideal com mutilação budista ou cristã; também se utilizou muitas vezes esta palavra para enganar os ingénuos, afirmou-se que a reacção é necessária e salutar. Também nós gostariamos de substituir a palavra "ideal", tão coberta de nódoas por uma nova que estivesse mais de acordo com as ideias recentes.
Mas, seja qual for a palavra, o facto existe: cada ser humano tem o seu ideal. Bismarck tem o seu, por mais fantástico que seja: a governação a ferro e fogo. Cada burguês tem o seu, mesmo que seja a banheira de prata do primeiro-ministro Gambetta, o cozinheiro Trompette e muitos escravos para pagar Trompette e a banheira sem grandes problemas.
Mas, a par destes, encontra-se o ser humano que concebeu um ideal superior. Uma vida de bruto não pode satisfazê-lo. Revoltam-no o servilismo, a mentira, a falta de boa-fé, a intriga, a desigualdade nas relações humanas. De que modo poderá ele tornar-se por sua vez servil, mentiroso, intriguista, dominador?
Ele entrevê quão bela seria a vida se existissem melhores relações entre todos; sente força para conseguir estabelecer tais relações com aqueles que venha a encontrar no seu caminho.
De onde vêm este ideal? Moldar-se-há pela hereditariedade, por um lado, e pelas impressões de vida, por outro? Não o sabemos. Mas ele existe: variável, progressivo, aberto às influências vindas do exterior, sempre vivo. Trata-se de uma sensação - em parte inconsciente - daquilo que nos dará a maior soma de vitalidade, a fruição de ser.
Pois bem, a vida somente é vigorosa, fecunda, rica em sensações, soba condição de responder a essa sensação do ideal. Se vós agirdes contra esta sensação ela já não será una, perderá o seu vigor. Se faltardes com frequência ao vosso ideal, acabareis por paralisar a vossa vontade, as vossas forças de acção. Em breve acabareis por não encontrar este vigor, esta espontaneidade de decisão que havíeis possuído outrora. Sois um ser despedaçado.
Nada de misterioso há nisto se considerardes o homem como um composto de centros nervosos e cerebrais, agindo independentemente*
* Piotr Kropotkine in "A Moral Anarquista"
Eu sei bem que estas vontades, estes nervos que eu tenho, de pensar nestes ideais "se existissem melhores relações entre todos" e coisas que o valham, surgem da guerrilha surda permanente que há gerações se trava misteriosamente e silenciosamente na minha família. Por isso me exilei, dentro e fora de mim. Mas hoje, passados tantos anos e tendo crescido aparentemente para fora do núcleo familiar, a família extendeu-se.
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imagens:
representações de V.I.T.R.I.O.L.U.M.
Sylvia Saint
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imagens:
representações de V.I.T.R.I.O.L.U.M.
Sylvia Saint
7 comments:
"a familia extenteu-se"
Aminha ainda é nuclear...
Zerinhos lindo BJS MTS MTS
Hoje, o meu filho cansou-se da música que tinha no MP3 e atirou-o ao caixote do lixo.
Eu penso com os meus botões:
-é a "a fruição de ser".
;)
The Panopticon is a marvellous machine which, whatever use one may wish to put it to, produces homogeneous effects of power.
Michel Foucault, Panopticism
[mais serendipismos]
"Por isso me exilei, dentro e fora de mim."
Por isso chove.
dentro.
e fora de mim.
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Bacio per te.
até o Bukowski dizia
"o peso da nossa
sociedade silencia
o coração de um homem"
1) É verdade, certo e muito verdadeiro:
(2) O que está em baixo é como o que está em cima e o que está em cima é como o que está em baixo, para realizar os milagres de uma única coisa.
(3) E assim como todas as coisas vieram do Um, assim todas as coisas são únicas, por adaptação.
(4) O Sol é o pai, a Lua é a mãe, o vento o embalou em seu ventre, a Terra é sua ama;
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