20090216

A proposito de Rio J (II)

Quando ela me convidou para passar o ano na casa de Ipanema, o meu sentimento foi um misto de excitação, medo, esperança e cansaço. Tenho medo do Rio, uma vez quase fui morto com uma garrafa partida, roubado e tive de encomendar a alma ao céu. Excitação pela selva e a urbe e a euforia. O Rio é uma selva urbana, e uma selva selvagem. A Mata atlântica envolve ainda as enormes pedras onde o exercito está à mercê dos mesmos perigos que os primeiros europeus, e a nata da civilização acomoda-se até onde pode nas reentrâncias do primitivo e selvagem. A desigualdade social é vertiginosa, e a sociedade está em ebulição. Nunca o casamento do paraíso e do inferno foi uma parábola tão bem utilizada para vestir uma cidade. O casamento disfuncional, acrescente-se...



Como eu irei dizer agora, esta história será o resultado de uma visão gradual - há dois anos e meio venho aos poucos descobrindo os porquês. É a visão da iminência de. De quê? Quem sabe se mais tarde saberei. Como que estou escrevendo na hora mesma em que sou lido. Só não inicio pelo fim que justificaria o começo - como a morte parece dizer sobre a vida - porque preciso de registar os factos antecedentes.
Escrevo neste instante com algum prévio pudor por vos estar invadindo com tal narrativa tão exterior e explícita. De onde no entanto até sangue arfante de tão vivo de vida poderá quem sabe escorrer e logo se coagular em cubos de geleia trémula. Será essa história um dia o meu coágulo? Que sei eu. Se há veracidade nela, e é claro que a história é verdadeira embora inventada - que cada um a reconheça em si mesmo porque todos nós somos um
e quem não tem pobreza de dinheiro tem pobreza de espírito ou saudade por lhe faltar coisa mais preciosa do que o ouro - existe a quem falte o delicado essencial.
Como é que eu sei tudo o que se vai seguir e que ainda o desconheço, já que nunca o vivi? É que numa rua do Rio de Janeiro peguei no ar de relance o sentimento de perdição no rosto de uma moça [...] ***







































































[...] Talvez que a enorme Coisa sofra na intimidade das suas fibras, mas não se compadece nem de si nem daqueles que reduz à congelada expectação [...]
Mas a Coisa interceptante não se resolve. Barra o caminho e medita, obscura *


































É sempre no passado aquele orgasmo, é sempre no presente aquele duplo, é sempre no futuro aquele pânico. É sempre no meu peito aquela garra. É sempre no meu tédio aquele aceno. É sempre no meu sono aquela guerra. É sempre no meu trato o amplo distrato. Sempre na minha firma a antiga fúria. Sempre no mesmo engano outro retrato. É sempre nos meus pulos o limite. É sempre nos meus lábios a estampilha. É sempre no meu não aquele trauma. Sempre no meu amor a noite rompe. Sempre dentro de mim meu inimigo. E sempre no meu sempre a mesma ausência. **






















_______________________________________________
Fotos:
0.0 e Nana
Textos:
Carlos Drummond de Andrade * O Enigma; ** O Enterrado Vivo
Clarice Lispector *** A Hora da Estrela


7 comments:

Jo said...

cidade maravilhosa, cheia de encantos mil...

espero que tenhas fruído muito!

Beijo*

R. said...

Um dia hei-de lá ir :)

[A] said...
This comment has been removed by the author.
[A] said...

L’impermanence

Anonymous said...

the one inside?

~pi said...

multiciclos de pre

sença e ausência

( sobre-todas a mais-líquida




~

[A] said...

convidada pela moça império serrano
também eu teria medo, muito medo....