Como eu irei dizer agora, esta história será o resultado de uma visão gradual - há dois anos e meio venho aos poucos descobrindo os porquês. É a visão da iminência de. De quê? Quem sabe se mais tarde saberei. Como que estou escrevendo na hora mesma em que sou lido. Só não inicio pelo fim que justificaria o começo - como a morte parece dizer sobre a vida - porque preciso de registar os factos antecedentes.
Escrevo neste instante com algum prévio pudor por vos estar invadindo com tal narrativa tão exterior e explícita. De onde no entanto até sangue arfante de tão vivo de vida poderá quem sabe escorrer e logo se coagular em cubos de geleia trémula. Será essa história um dia o meu coágulo? Que sei eu. Se há veracidade nela, e é claro que a história é verdadeira embora inventada - que cada um a reconheça em si mesmo porque todos nós somos um
e quem não tem pobreza de dinheiro tem pobreza de espírito ou saudade por lhe faltar coisa mais preciosa do que o ouro - existe a quem falte o delicado essencial.
Como é que eu sei tudo o que se vai seguir e que ainda o desconheço, já que nunca o vivi? É que numa rua do Rio de Janeiro peguei no ar de relance o sentimento de perdição no rosto de uma moça [...] ***
Escrevo neste instante com algum prévio pudor por vos estar invadindo com tal narrativa tão exterior e explícita. De onde no entanto até sangue arfante de tão vivo de vida poderá quem sabe escorrer e logo se coagular em cubos de geleia trémula. Será essa história um dia o meu coágulo? Que sei eu. Se há veracidade nela, e é claro que a história é verdadeira embora inventada - que cada um a reconheça em si mesmo porque todos nós somos um
e quem não tem pobreza de dinheiro tem pobreza de espírito ou saudade por lhe faltar coisa mais preciosa do que o ouro - existe a quem falte o delicado essencial.
Como é que eu sei tudo o que se vai seguir e que ainda o desconheço, já que nunca o vivi? É que numa rua do Rio de Janeiro peguei no ar de relance o sentimento de perdição no rosto de uma moça [...] ***
[...] Talvez que a enorme Coisa sofra na intimidade das suas fibras, mas não se compadece nem de si nem daqueles que reduz à congelada expectação [...]
Mas a Coisa interceptante não se resolve. Barra o caminho e medita, obscura *
É sempre no passado aquele orgasmo, é sempre no presente aquele duplo, é sempre no futuro aquele pânico. É sempre no meu peito aquela garra. É sempre no meu tédio aquele aceno. É sempre no meu sono aquela guerra. É sempre no meu trato o amplo distrato. Sempre na minha firma a antiga fúria. Sempre no mesmo engano outro retrato. É sempre nos meus pulos o limite. É sempre nos meus lábios a estampilha. É sempre no meu não aquele trauma. Sempre no meu amor a noite rompe. Sempre dentro de mim meu inimigo. E sempre no meu sempre a mesma ausência. **
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Fotos:
0.0 e Nana
Textos:
Carlos Drummond de Andrade * O Enigma; ** O Enterrado Vivo
Clarice Lispector *** A Hora da Estrela
7 comments:
cidade maravilhosa, cheia de encantos mil...
espero que tenhas fruído muito!
Beijo*
Um dia hei-de lá ir :)
L’impermanence
the one inside?
multiciclos de pre
sença e ausência
( sobre-todas a mais-líquida
~
convidada pela moça império serrano
também eu teria medo, muito medo....
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