Um relâmpago verde revelou em relance a altura insuspeita do céu. Outro clarão pôs uma àrvore antes invisível de súbito ao seu alcance. E para o abismo rolavam os trovões.
"Eu" - disse a mulher velha - "eu sou a rainha da natureza". "Ninguém no mundo jamais saberia" - o que alargou de repente a grande escuridão do campo e a mulher ficou perdida nele, nela, a trémula rainha da natureza.
Esse pensamento de segredo completo de que só a chuva partilhava deu-lhe prazer como se ela enfim tivesse feito algo além das suas forças humanas.
Estremeceu de alegria.
Com o vento molhado a noite bateu-lhe dura no rosto - a senhora recebeu com delícia o desconhecido pacto.


“a Maçã no escuro” de Clarice Lispector
2 comments:
senti uma nostalgia dolorosa com aquela imagem e a mistura musical...
That is one of the reasons why I miss you.
Post a Comment