20100331

Boa Ostara

Sol-monath dici potest mensis placentarum, quas in eo diis suis oflerebant; Rhed-monath a dea illorum Rheda, cui in illo sacrificabant, nominatur; Eostur-monath, qui nunc paschalis mensis interpretatur, quondam a dea illorum quae Eostre vocabatur, et cui in illo festa celebrabant, nomen habuit, a cujus nomine nunc paschale tempuscognominant; consueto antiquae observationis vocabulo gaudia novae
solemnitatis vocantes.




















Eosturmonath has a name which is now translated "Paschal month", and which was once called after a goddess of theirs named Eostre, in whose honour feasts were celebrated in that month. Now they designate that Paschal season by her name, calling the joys of the new rite by the time-honoured name of the old observance.'



















the mother frog has a massive explosion of eggs and then leaves them to their fate.


















20100325

Failure










I've worked hard all my life
Money slips through my hands
My face in the mirror tells me
It's no surprise that I'm
Pushing the stone up the hill
of failure

They tempt me with violence
They punish me with ideals
And they crush me with an image of my
life that's nothing but unreal
Except on the goddamned slaveship
of failure

I'll drown here trying
to get up for some air
But each time I think I breathe
I'm laid on with a double share
of the punishing burden
of failure

I don't deserve to be down here
But I'll never leave
And I've learned one thing
You can't escape the beast
In the null and void pit
of failure

When I get my hands on some money
I'll kiss it's green skin
And I'll ask it's dirty face
"Where the hell have you been?"
"I am the fuel that fires the engine
of failure."

I'll be old and broken down
I'll forget who and where I am
I'll be senile or forgotten
But I'll remember and understand
You can bank your hard-earned money
on failure

I saw my father crying
I saw my mother break her hand
On a wall that wouldn't weep
But that certainly held in
The mechanical moans of a dying man
Who was a failure











20100317

Inequality






















When the rich get richer and the poor get poorer, when inequality grows, interclass cohesion decreases, causing a crisis that may lead to the collapse of the empire. Most empire collapse not because of external aggression but for internal reasons.



























in Peter Turchin: "War and Peace and War" (2006)

20100303

Counter Nature












Alinhar ao centro



Without some totally revolutionary change in man’s attitude towards the mind, even his very tenure of the earth may come to be threatened...after all man will prove but one more of nature’s failures, ignominiously to be swept from her work-table to make way for another venture of her tireless curiosity and patience









































































































































































The various systems of doctrine that have held dominion over man have been demonstrated to be true beyond all question by rationalists of such power as Calvin and Hegel and Marx. Guided by these master hands the intellect has shown itself more deadly than cholera or bubonic plague and far more cruel.






















Text:
Trotter, W. (1916) Instincts of the Herd in Peace and War, p.65
Photos:
Nikola Tamindzic

20100225

Intemperie














Um relâmpago verde revelou em relance a altura insuspeita do céu. Outro clarão pôs uma àrvore antes invisível de súbito ao seu alcance. E para o abismo rolavam os trovões.
"Eu" - disse a mulher velha - "eu sou a rainha da natureza". "Ninguém no mundo jamais saberia" - o que alargou de repente a grande escuridão do campo e a mulher ficou perdida nele, nela, a trémula rainha da natureza.
Esse pensamento de segredo completo de que só a chuva partilhava deu-lhe prazer como se ela enfim tivesse feito algo além das suas forças humanas.
Estremeceu de alegria.
Com o vento molhado a noite bateu-lhe dura no rosto - a senhora recebeu com delícia o desconhecido pacto
.
























“a Maçã no escuro” de Clarice Lispector

20100126

I
Quero fugir ao mistério. Para onde fugirei? Ele é a vida e a morte. Ó Dor, aonde me irei?
II
O mistério de tudo Aproxima-se tanto do meu ser, Chega aos olhos meus d'alma tão de perto, Que me dissolvo em trevas e universo...Em trevas me apavoro escuramente.
III
O perene mistério, que atravessa Como um suspiro céus e corações
























.
Fernando Pessoa, Poemas Dramáticos "Primeiro Tema: O mistério do Mundo".

20091231

In Transit













You have let me live one more year
sometimes I fell it is a blessing
sometimes I fell it is a curse.




























O último dia do ano não é o último dia do tempo. Outros dias virão e novas coxas e ventres te comunicarão o calor da vida. Beijarás bocas, rasgarás papéis, farás viagens e tantas celebrações de aniversário, formatura, promoção, glória, doce morte com sinfonia e coral, que o tempo ficará repleto e não ouvirás o clamor, os irreparáveis uivos do lobo, na solidão.

O último dia do tempo não é o último dia de tudo. Fica sempre uma franja de vida onde se sentam dois homens. Um homem e seu contrário, uma mulher e seu pé, um corpo e sua memória, um olho e seu brilho, uma voz e seu eco, e quem sabe até se Deus... Recebe com simplicidade este presente do acaso. Mereceste viver mais um ano. Desejarias viver sempre e esgotar a borra dos séculos. Teu pai morreu, teu avô também. Em ti mesmo muita coisa já expirou, outras espreitam a morte, mas estás vivo.

Ainda uma vez estás vivo, e de copo na mão esperas amanhecer. O recurso de se embriagar.
O recurso da dança e do grito, o recurso da bola colorida, o recurso de Kant e da poesia, todos eles... e nenhum resolve.

Surge a manhã de um novo ano. As coisas estão limpas, ordenadas. O corpo gasto renova-se em espuma. Todos os sentidos alerta funcionam. A boca está comendo vida. A boca está entupida de vida. A vida escorre da boca, lambuza as mãos, a calçada. A vida é gorda, oleosa, mortal, sub-reptícia.*











* Carlos Drummond de Andrade. "O último dia do ano"

20091224

Solstício de Inverno. Natalis Domini. Christ's Mass. Yule Goat. & the Deer Goddess (II)










































O Solstício de Inverno é o ponto em que a elíptica do Sol atinge a posição mínima de altura em relação ao equador.
Era conhecido como o “nascimento do sol” desde a era mais remota e festejado por todos os povos no hemisfério norte.
Este acontecimento astronómico era muito importante visto marcar o início do novo ciclo do Sol sobre a Terra, com dias cada vez maiores e mais quentes até ao novo retorno.
A esta data associavam-se rituais ou festas muito importantes. As civilizações mais antigas consideravam o Sol como sendo o filho da luz, a luz para eles representava Deus em vida.*











































Uma vez que permitiam controlar a reprodução dos animais, a plantação de sementeiras e avaliar as reservas invernais de alimentos entre as colheitas, certos eventos astronómicos estão associados ao surgimento de mitologias e tradições desde tempos remotos .
Na noite do solstício de inverno, no hemisfério norte, as três estrelas da cintura de Orion alinham-se com Sirius, a estrela mais brilhante a oriente no céu, assinalando o sítio onde o sol nascerá na manhã após o solstício de Inverno. Após este solstício o sol começa a sua ascenção a norte.**



















O Solstício de Inverno terá sido imensamente importante porque as comunidades não tinham a certeza de sobreviver ao Inverno, e para ele tinham de se preparar durante os 9 meses do ano. Morrer de fome era comum entre os meses de Janeiro e Abril.
Nas culturas modernas os rituais do solstício de inverno são valorizadas pelo seu consolo emocional na altura mais escura do ano, sobretudo nas culturas mais a norte do hemosfério. Os efeitos depressivos do inverno nos individuos e na sociedade estão ligados ao frio, cansaço, mal-estar interior e inactividade.
A insuficiente exposição à luz do sol aumenta a secreção de melatonina pelo corpo, desregulando o ritmo circadiano e aumentando a sonolência e as horas de sono. Os festivais deste período do ano sempre utilizaram grandes fogueiras, iluminações, canticos e danças, desde os primordios da civilização.**














































Nesta altura do ano, eram feitas matanças da maior parte do gado, para que este não tivesse de ser alimentado durante o resto do inverno, e era portanto a altura em que existia abundância de carne fresca. O vinho e cerveja tinham estado a fermentar e estavam prontos para ser bebidos.

A Cabra Yule, ou "Yule Goat" é uma destas tradições escandinavas e norte-europeias mais antigas; as suas origens são pré-cristãs, e segundo as lendas o deus Thor era conduzido pelos céus por duas cabras. Nessa festa da Yule era morta uma cabra, e cantavam-se canções porta-a-porta para receber comida e bebidas em troca. Na Finlândia era dito que a cabra Yule era uma criatura que assustava as crianças e exigia presentes. Durante o século 19 tornara-se a criatura invisível que dava os presentes, e um dos homens da família mascarava-se de cabra para os trazer.**












O Natalis Domini, desde o século 4º em Roma, que em em Inglaterra desde o século 11 se denominou Christ's Mass (Christmass, a Missa de Cristo) , tornou-se uma celebração do nascimento do deus feito carne, o Messias Yeshua de Nazaré. O seu nascimento foi estabelecido no dia do Solstício de Inverno segundo o calendário Juliano, ou seja a 25 de Dezembro. **









...


Desde tempos perdidos na idade do gelo, em que as tribos e clãs tentaram perceber os ritmos das estações, daquilo a que chamaram deuses sol e lua, para não morrer de fome durante o inverno, até ao frenesim dos centros comerciais e das canções minimais repetitivas de natal,
passando pelo nascimento do filho do deus solar do deserto da palestina que os romanos decidiram fazer nascer a 25 de dezembro no século 4 para coincidir com o solstício do calendário oficial do império, pelas tradições nórdicas da cabra Yule, que estranhamente se combinaram com adoração do cordeiro de deus...,

afinal não deixámos de ser o que sempre fomos,
criaturas da terra,
criadores de contos e de deuses,
adoradores e devoradores de animais sagrados,
comunidades espalhadas de norte a sul pelos hemisférios da superfície de uma esfera
de coração incandescente rodando pelos céus
ao "deus dará" .













Triste sina a de estarmos sob o jugo de um pseudo-simpático e obeso velho idiota que se enfrasca de coca-cola e que dá presentes às crianças ricas só se elas se portarem "bem". Sob o testemunho mudo de árvores de plástico com lixo colorido pendurado, debaixo das quais se acumulam as prendas: os despojos de amor condicional e da paz apodrecida dos não-ditos gritantes, embrulhados em pasta de árvores verdadeiras desbastadas para tão pouco nobre fim.

De estarmos sob o paradigma de um trenó de renas presas num arnês;

não nos esqueçamos das lendas em que as renas era deusas, as cabras conduziam Thor,
e o filho do sol feito carne não estava crucificado
no calendário fixado pelos senadores corruptos de Roma e das pequenas "Romas" desse mundo, e beatificado pelos bispos votados à pseudo-abstinência sexual do Vaticano e dos pequenos vaticanos desse mundo...
















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* in Observatório Astronómico de Lisboa. http://www.oal.ul.pt/index.php?link=destaque&id=94
** in Wikipédia, tradução para português por eu versão 0.04
Imagens:
1)Esculturas de Ron Mueck
2)"Folktale of Father Christmas riding a yule goat.."
3)"Tanngrisnir and Tanngnjóstr from Fredrik Sander's 1893 Swedish edition of the Poetic Edda."
4) Adoration of the Lamb. por A. Durer