20080226

Love machines & the spirit of love [versão 0.07]






Lisboa, 20080226



She holds a key to the room down there And I, I will follow, but I'll never fall in. Yeah, we'll suffer for nothing, and we'll never forgive God said to no one to do what he did. One second in your presence is a miracle of love, One second denied is a miracle of love. The young man is weakness in a lover's disguise. The woman is strong in her warm-bitter lies. How will they hope what they can never perceive? And how do they love what they fail to deceive? One second in your memory is a miracle of lies. One heartbeat in your body is a miracle of love. White light on a black sky is a miracle from above, One lonely moment in your arms is a miracle of love.
(Swans; "Miracle of Love")









Reconstituindo retrospectivamente a história da família, Morgan chega, de acordo com a maioria de seus colegas, à conclusão de que existiu uma época primitiva em que imperava, no seio da tribo, o comércio sexual promíscuo, de modo que cada mulher pertencia igualmente a todos os homens e cada homem a todas as mulheres.

No século passado, já se havia feito menção a esse estado primitivo, mas apenas de modo geral;
Bachofen foi o primeiro - e este é um de seus maiores méritos - que o levou a sério e procurou seus vestígios nas tradições históricas e religiosas. Sabemos hoje que os vestígios descobertos por ele não conduzem a nenhum estado social de promiscuidade dos sexos e sim a uma forma muito posterior: o matrimônio por
grupos. Aquele estado social primitivo, admitindo-se que tenha realmente existido, pertence a uma época tão remota que não podemos esperar encontrar provas diretas de sua existência, nem mesmo entre os fósseis sociais, nos selvagens mais atrasados.

É precisamente de Bachofën o- mérito de ter posto no primeiro plano o
estudo dessa questão.Ultimamente, passou a ser moda negar esse período inicial na vida sexual do homem. Pretendem poupar à humanidade essa "vergonha". E, para isso, apoiam-se não apenas na falta de provas diretas, mas, principalmente, no exemplo do resto do reino animal.
Neste, Letourneau (A Evolução do Matrimônio e da
Família, 1888 ) foi buscar numerosos fatos, de acordo com os quais a promiscuidade sexual completa só é própria das espécies mais inferiores. Mas, de todos esses fatos só posso tirar uma conclusão: não provam coisa alguma quanto ao homem e suas primitivas condições de existência. A união por longo tempo entre os vertebrados pode ser explicada, de modo cabal, por motivos fisiológicos; nas aves, por exemplo, deve-se à necessidade de proteção á fêmea enquanto esta choca os ovos; os exemplos de fiel monogamia que se encontram entre ás aves nada provam quanto ao homem, pois o homem não descende da ave.

E, se a estrita
monogamia é o ápice da virtude, então a palma deve ser dada à tênia solitária que, em cada um dos seus cinqüenta a duzentos anéis, possui um aparelho sexual masculino e feminino completo, e passa a vida inteira coabitando consigo mesma em cada um desses anéis reprodutores.

( Engels, in "A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado")

http://www.marxismo.org.br/uploads/205092007112811.pdf













It's A Man's Man's Man's World
James Brown
Words & Music: James Brown - B. Newsome

Notes : first record on June 6th, 1964

This is a man's world, this is a man's world
But it wouldn't be nothing, nothing without a woman or a girl

You see, mn made the cars to take us over the road
Man made the trains to carry heavy loads
Man made electric light to take us out of the dark
Man made the boat for the water, like Noah made the ark

This is a man's, a man's, a man's world
But it wouldn't be nothing, nothing without a woman or a girl

Man thinks about a little baby girls and a baby boys
Man makes then happy 'cause man makes them toys
And after man has made everything, everything he can
You know that man makes money to buy from other man

This is a man's world
But it wouldn't be nothing, nothing without a woman or a girl

He's lost in the world of man
He's lost in bitterness


When white women - especially white heterosexual women - add their voices to such narratives by women of color and white lesbians we seem to return to the "scene" of the original crime [...] In Women and Madness: the Critical Phallacy" Shoshana Felman cites Phyllis Chesler: "The sine qua non of 'feminine' identity in a patriarchal society is the violation of the incest taboo, i.e., the initial and continued 'preference' for Daddy, falling by the approved falling in love and/or marrying of powerful father figures. [...]
It is our lust for their innocence, therefore, that maintains and supports heteropatriachy. We are, if you will, doing it for Daddy.

in "Lust for Innocence"; Lynda Hart








Lisboa 20080217

Ninguém pode dizer que um dia tão bacoco como um domingo de chuva não pode ter os seus pontos luminescentes.

Ao almoço ervilhas com ovos na casa de família materna, de onde quase sempre saio existencialmente irritado, como se tivessem andado a raspar o meu nervo vago com uma vasssoura de bruxa. As duas mulheres, mãe e filha estão as duas velhas. Não me atrevo a pensar que estão as duas a morrer.

A conversa sobre as propriedades anti-anémicas das ervilhas serviu para voltar a saber aquilo que tinha conseguido esquecer por recalcamento freudiano: a minha mãe tem anemia crónica desde nova. Foi apenas a confirmação fisiológica de um facto que sempre me perturbou: a minha mãe é uma vampira. Eu sobrevivi, e o meu pai também.

As leoas do Kalahari caçavam búfalos na tv.
O pequenote filhote macho da fêmea dominante do bando começava a deixar o leitinho e a apreciar carne em sangue. E desaparecia dentro da carcaça do búfalo semi-devorado enquanto "miava".
Maggie, a gata, estava muito gata hoje, e brincava com as unhas da frente e de trás bem de fora em volta da minha mão, que abraçava como a uma presa, enquanto roía as minhas falangetas com os seus caninos afiados. Tive de lhe dar luta.
Levanto os pratos e reparo nas ossadas de entrecosto.
Um beijo com pimenta doce inesperado sempre esperado leva-me por momentos dalí para fora.
Mas acabei por sair com uma náusea existencial Sartreana, de facto.
Uma náusea que só uma injecção de Vida directamente dentro do corpo pode curar.
And now for something really interesting: mais um pouco do texto "Genital Chastity" de Leo Bersani.










Laplanche has formulated a theory of of sexual excitement as an effect of ébranlement - perturbation or shattering - on the organism, an effect that momentarily undoes psychic organization [...]
I have been proposing that we think of the sexual - more specifically of
jouissance in sexuality - as a defeat of power, a giving up, on the part of an otherwise hyperbolically self-afirming and phallocentrically constituted ego, of its projects of mastery. Thus the subject enters ito a Bataille-like "communication" with otherness, one in which the individuating boundaries that separate subjects , and that subjects for the most part fiercely defend, are erased.




Lisboa 20080216







Nothing, it would seem, is more difficult than to conceive, to elaborate, and to put into practice than "new ways of being together". Foucault used this expression to define what he thought of as our most urgent ethical project...which Foucault associated with "the formation of new alliances and the tying together of unforeseen lines of force". Such alliances, such lines of force would somehow escape "the two ready made formulas" - both perfectly consistent with the normalizing coercions of the dominant culture - "of the pure sexual encounter and the lovers' fusion of identities".


in "Genital Chastity" ; Leo Bersani








Bom, mais uma vez eu não devia estar a fazer isto. Mas quando não se tem já paciência para a televisão, quando se tem leitores tão assíduos e inteligentes, e quando também, e apenas quando também, a cama está vazia e fria, não é de facto possível resistir a esta poderosa medusa cibernética, e deixar de vir para aqui escrever umas coisitas.
Tudo o que tenho vindo a expôr, (in)felimente com o estilo críptico e elíptico do costume, vai ficar mais claro - espero eu - quando acabar o último post da série "Tudo para o Lar!". No entanto, e no entretanto, ando a debruçar-me sobre as coisas do enamoramento, do amor e da lascivia.
Mais abaixo, uns trechos de um texto de Rosa Maria Dias Professora de Filosofia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), fazem alusão ao belíssimo e implacável ensaio de Schopenhauer entitulado "A metafísica do Amor". Desiludam-se os sentimentalistas pseudo-românticos e agucem as presas os verdadeiros neo-românticos de inspiração germânófila.
E os amantes de sexo







Através do tema do amor, Schopenhauer apresenta filosoficamente a trama do grande drama cósmico — a existência. E o enredo dessa peça é algo trágico-cômico.

A metafísica do amor de Schopenhauer parte da seguinte questão: se a questão amorosa não merece mesmo ser levada a sério, como atestam a grande maioria dos filósofos, já que poucos deles trataram desse tema, por que ela é tema constante dos poetas, por que ela está sempre presente nas histórias publicadas nas páginas dos jornais?

[...]

Ainda que possa ser um pouco impreciso negar que haja predecessores filosóficos quanto ao tema do amor, Schopenhauer tem razão ao dizer que quase ninguém, antes dele, pensou plenamente nas implicações que o amor tem para a preservação da existência humana. Tese naturalista que não encontrou eco nem na filosofia de Platão que, segundo Schopenhauer, foi quem mais se ocupou do assunto, principalmente em O banquete e o Fedro, contudo limitando-se à homossexualidade e à criação do mito, nem em Rousseau, que tratou o tema de forma insuficiente no Discurso sobre a Desigualdade, nem em Kant, que na terceira parte de seu ensaio Sobre o sentimento do Belo e do Sublime tratou o tema muito superficialmente e sem conhecimento de causa e, por isso, de forma incorreta, e nem mesmo em Spinoza que, em sua Ética IV, proposição 44, demonstração, diz que o amor é uma cócega acompanhada da idéia de uma causa exterior.4





É importante ainda acrescentar que a vontade e o querer viver, para Schopenhauer, são uma só e mesma coisa. A vontade de viver é a manifestação fenomenal da vontade no domínio orgânico. O que atrai dois indivíduos de sexos diferentes um para o outro é a vontade de vida.
Os órgãos sexuais são a "morada da vontade", por oposição ao cérebro, que é "a morada da representação". Eis por que o tema do amor tem tanto interesse para ele. Schopenhauer reduz, assim, todos os tipos de amor à sexualidade.
Porque o amor, como um impulso sexual, é o meio através do qual a vida irrompe nesse mundo.

in "O autor de si mesmo: Machado de Assis leitor de Schopenhauer" ; Rosa Maria Dias







Mas a ideia do amor apaixonado como engano da natureza à mente humana, cujo fim é apenas a queca para a reprodução, apesar de revolucionária no contexto da altura, é demasiado limitativa hoje em dia. Como todos os alemães - vítimas que são da sua educação prussiana e afectivamente gelada -, incluindo Freud, Schopenhauer não fazia a mais pequena noção da importância da ligação a que os autores ingleses chamam de attachment" ou apego em português. É nas dores da solidão por falta de "attachment" que está a grande armadilha do humano.
Por outro lado, Schopenhauer não ousou pensar nos enganos que os humanos podem eles também fazer à natureza. Se a natureza deu o prazer e a paixão para atrair enganosamente os sexos à união com fins reprodutivos, a humanidade na sua evolução intelectual e espiritual deu a volta à natureza.
E não é por acaso que em fundo coloquei a música dos Young Gods.
Desta vez vou falar de máquinas e dispositivos de amar e do espírito do Amor. Making love "machines" and the creative Spirit of making love.





10 comments:

un dress said...

c -ri- a tiv an do

~pi said...

voltei para perguntar

se também substituem

famílias

...these...machines...

ana said...

LOVE, n. A temporary insanity curable by marriage or by removal of the patient from the influences under which he incurred the disorder. This disease, like caries and many other ailments, is prevalent only among civilized races living under artificial conditions; barbarous nations breathing pure air and eating simple food enjoy immunity from its ravages. It is sometimes fatal, but more frequently to the physician than to the patient.

Ambrose Bierce, The Devil´s Dictionary


opá! deixa lá a tua mãe em sossego! afinal todas as relações são antropofágicas.

1.01 said...

Undress:
gud 2 ci iu bac :)
*****

~pi:
servem exactamente para isso.
O teu blog é maravilhoso, acho que ja la tinha estado há muito tempo.

ana:
hoje é dia da mãe, ou coisa assim.
Essa linha do ambrose pierce é de certo modo a mesma do Shopenhauer.
Who knows, who knows...

"When the moon hits the sky like a big pizza pie, that's Amore!"

NARNIA said...

Zerinhos mas afinal as ervilhas estavam boas?

Beijo verde da cor das leguminosas:))

ana said...

Cristina deveria ter entre dezoito e vinte e cinco anos, idade preferida dos homens para a reprodução. Deveria ser bela, pois a beleza favorece sempre o impulso sexual. Ter saúde e um esqueleto bem formado, porque é ele o fundamento de todo tipo da espécie. Cristina não era mirrada, retorcida, nem tinha um andar coxo. Pelo contrário, deveria ser, ainda na ótica da filosofia de Schopenhauer, bem talhada e de pés pequenos [you see?]

"Amar o que nos falta" a longo prazo dá uma dor de cabeça do caraças! E depois há o Abílio!!!

"Cala a boca, Abílio. Tu não só ignoras a verdade, mas até esqueces o passado. Que culpa podem ter essas duas criaturas humanas, se tu mesmo é que os ligaste?"

Aqui fiquei a saber que gerei o meu próprio Cúpido...nem sei como vou encaixar esta!ai mãe...rs


— Desgraça! Desgraça!

1.01 said...

Narnia :)
as ervilhas tavam óptimas, e o entrecosto também. Mas o que mais gostei foi aquele beijo pimenta ao telefone. Nem só de ervilhas, ovos e carne vive o homem.

ana: pés pequenos são sobretudo muito apreciados pelos xinezes, bem como outras iguarias do género cãezinhos com algas.
Vês, também tu chamas pela mãe :]

Gerar o próprio cupido, eis 1 ideia que é desconcertante, muito shopenauriana, e que explica as figuras do bebé alado na arte clássica.
who knows...

~pi said...

.vim piscar.

pisca pisco...:)))

ana said...

(estou viciada nessa voz de cisne...qual voz de sereia)

ana said...

e o Andrew Eldritch fazia-me desejar viver numa cripta..


You run for cover in the temple of love
You run for another but still the same


For the wind will blow my name