20081114

Brincar com o Fogo, Lisboa. Campo Pequeno, 14 de Novembro; Metropolis Club, 15 Novembro (...E relembrar Fallujah)



The MK77 familiy is an evolution of the incendiary bombs M-47 and M-74, used during the conflict in Korea and the war in Vietnam. Napalm is an incendiary mixture of benzene, gasoline and polystyrene. While the MK-77 is the only incendiary munition currently in active inventory, a variety of other incendiary devices were produced, including the M-47 Napalm bomb, the M-74 incendiary bomb, and white phosphorous and munitions manufacturing. Napalm is a mixture of benzene (21%), gasoline (33%), and polystyrene (46%). Benzene is a normal component of gasoline (about 2%). The gasoline used in napalm is the same leaded or unleaded gas that is used in automobiles. ****
















"Fallujah, a carnificina escondida", emitido ao fim da tarde de terça-feira, é um documentário sobre a grande ofensiva norte-americana contra a cidade de Fallujah, em Novembro de 2004, no qual se revela ter sido usado fósforo branco e o agente MK77, uma variante do napalm.

o programa realizado em 2004 mostra os efeitos devastadores daquelas duas substâncias sobre os seres humanos, que, no caso do fósforo branco, "queima os corpos, dissolve-os até aos ossos e deixa as roupas intactas", segundo o relato de Jeff Englehart, um ex-marine e veterano da guerra do Iraque que participou naquela operação.

De acordo com os relatos, o fósforo branco espalha-se como uma nuvem e, num raio de 150 metros, "ninguém escapa" com vida, assegurou aquela fonte, agora autor de um blogue contra a guerra. Englehart contesta também a posição do Pentágono, quando alega que o produto é uma substância incendiária (e considerada como não química) e apenas foi usado para iluminar o campo de batalha. "Pode usar-se num campo de batalha mas não sobre uma cidade" cheia de civis, enfatizou o antigo militar.

A carnificina, segundo o documentário da RAI, não chegara até agora ao conhecimento da opinião pública mundial devido à proibição dos jornalistas embedded (colocados nas unidades militares americanas) de filmarem o bombardeamento à cidade de Fallujah por razões de segredo militar.***






Alguém disse "existem dois tipos de fogo, um externo outro interno", ou um fogo visível, outro oculto.








O fogo externo e visível é aquele que os nossos antepassados aprenderam a dominar com paus e pedras. E com o domínio desse fogo dominaram a matéria; as madeiras, as pedras, os metais. Os povos que dominaram mais eficazmente esse fogo, ou mais depressa, dominaram os outros povos. Os que fundiram os metais para fazer charruas e armas, os que fundiram a areia para fazer vidro, os que aprenderam a combinar enxofre, salitre e carbono para fazer trovões de braço.

Dentro de cada povo aqueles poucos degenerados que se juntavam para roubar, mentir e violar os outros mais pacíficos e serenos, ou vulneráveis, aprenderam a tomar conta dos meios de produção e controle do fogo, usando os produtos materiais do uso do fogo nas madeiras, pedras e metais trabalhados por outros mais serenos desse mesmo povo. Periodicamente alguns dos dominados conseguiam subverter a ordem estabelecida, mas ou adaptavam os métodos de roubar, mentir, e violar para manter o poder, ou então sucumbiam de novo aos métodos dos degenerados.

















E assim os degenerados tomaram conta do fogo, e dos processos da história, até que um dia todo o planeta em que viajavam pelo espaço ficou permanentemente à beira de uma guerra em forma de tempestade de fogo aniquiladora.
Com o passar da história os dominados serenos e pacíficos desenvolveram uma forma hereditária de submissão para com os dominadores. Perderam a capacidade de se insurgir colectivamente, tornaram-se masoquistas sociais, e doutrinam cuidadosamente os seus filhos nesse masoquismo. Os dominadores tornaram-se sádicos sociais, e geraram estruturas tenebrosas de influência moral e máquinas horrendas de guerra para abusar em massa dos dominados.









Alguns grupos de dominados acordam e adormecem cada dia em estado sonâmbulo. Os seus sonhos-acordados são fabricados artificialmente pelas "dream machines" controladas pelos dominadores. As grilhetas mais pesadas e seguras são invisíveis, internas, e manifestam-se na mente dos dominados como uma culpa difusa pela própria existência. Ignoram que esse sentimento nebuloso é a energia interna de insurreição e liberdade virada contra o próprio eu.

Os dominadores, esses tornam-se cada vez mais ávidos, maníacos e desesperados na sua avidez, não conseguem dormir com medo dos próprios sonhos. Com medo do arrependimento e vergonha que temem vir travestida de "ira divina". Perderam a capacidade de sentir culpa e redenção. Ao desejo e procura de liberdade dos dominados chamam feitiçaria e diabo, e todas outras coisas vermelhas e temidas, ameaçam-nos primeiro com abandono, exílio, depois tortura e inferno eterno.
















Alguém disse "dentro do fogo oculto existem três tipos de fogo", o intelectual que permite ver na escuridão da floresta de interrogações (ou mercúrio), o emocional que permite animar o corpo como uma máquina de nervos e carne (ou marte), e o espiritual, que permite iluminar as estruturas catedráticas ou cavernosas do intelecto e das emoções,
e derreter a teia emaranhada em que se combinam as constelações da memória e da alucinação, e aquecer a amalgama de novo, como um Ovo.

Outros ainda, descobriram que o fogo físico mais primevo e o fogo espiritual mais sublime se encontravam na mesma origem, no mesmo "sítio" dentro de um ovo de uma serpente que anima e queima cada corpo humano como se fosse uma tocha. E que era a coisa mais divertida do mundo brincar com esse fogo oculto.

Aqueles que o/a viram e brincaram com ele/ela desdenharam o domínio dos povos, e desdenharam dentro dos povos o domínio dos que se juntam para roubar e mentir e violar os do mesmo povo. Aqueles que o/a viram alcançaram uma nova ambição, a de dominarem os três fogos que se iluminam e ensombram mutuamente dentro de si e dentro dos outros.

Permanentemente perseguídos pelos dominadores do fogo externo bem como pelos dominados , infiltraram-se no poder ou na ausência dele, vagarosamente, secretos, perdendo-se uns dos outros para melhor se mascararem.

As suas práticas, brincadeiras, experiências e invocações são consideradas ultrajantes tanto para os dominadores como para os dominados, porque põe em questão todo os aparelhos milenares do poder do fogo externo, visível. E porque sopram um susto de vida e morte quando se abrem as portas do mundo invisível que tanto dominadores como dominados desconhecem, aquilo a que alguém chamou "o labirinto do Ovo da serpente".

Muitos dos que se dedicam à dominação dos fogos interiores estão ainda perdidos no seu próprio labirinto do Ovo de serpente. E alguns deles gostariam de esquecer que alguma vez nele entraram. Sentem-se queimados, aprendizes de feiticeiros, mas já não podem voltar para o mundo viciado do dominador-dominado.

Esses devem reaprender a "brincar com o fogo".





































Vou falar-vos dum curioso personagem: Jeremias, o fora-da-lei, Descendente por linha travessa do famigerado Zé do Telhado. Jeremias dedicou-se desde tenra idade ao fabrico da bomba caseira Cuja eloquência sempre o deixou maravilhado. Para Jeremias nada se assemelha à magia da dinamite A não ser talvez o rugir apaixonado das mais profundas entranhas da terra. E só quando as fachadas dos edifícios públicos explodirem numa gargalhada Será realmente pública a lei que as leis encerram.


Há quem veja em Jeremias apenas mais uma vítima da sociedade Muito embora ele tenha a esse respeito uma opinião bem particular. É que enquanto um criminoso tem uma certa tendência natural para ser vitimado Jeremias nunca encontrou razões para se culpar

Porque nunca foi a ambição, nem a vingança, que o levou a desprezar a lei E jamais lhe passou pela cabeça tentar alterar a Constituição. Como um poeta ele desarranja o pesadelo para lá dos limites legais, Foragido por amor ao que é belo e por vocação.
Jeremias gosta do guarda roupa negro e dos mitos do fora-da-lei, Gosta do calor da aguardente e de seguir remando contra a maré. Gosta da forma como os homens respeitáveis se engasgam quando falam dele E da forma como as mulheres murmuram: fora-da-lei.

Gosta de tesouros e mapas sobretudo daqueles que o tempo mais maltratou. Gosta de brincar com o destino e nem o próprio inferno o apavora. Não estando disposto a esperar que a humanidade venha alguma vez a ser melhor, Jeremias escolheu o seu lugar do lado de fora. **




Gosto de bricar com o fogo, de jogar com as palavras, adoro coisas perigosas, incómodas e jocosas. Gosto de coisas obscenas, de soltar as fantasias, brincadeiras maliciosas, perversamente gostosas.
Nunca peguei numa arma, eu nunca matei um homem, nunca violei mulheres, nunca massacrei crianças. Neste mundo em chamas, neste planeta a arder, neste inferno na terra temos tudo a perder.
Gosto de brincar com o fogo, deitar achas p'rá fogueira, gozar os truques da mente e confundir toda a gente. Interessa-me a puberdade, excitam-me as pernas das freiras, gosto de provocar danos nas teias dos puritanos. Mas não se brinca com a fome nem com a miséria alheia, a vida não vale nada quando se trafica o sangue. *

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*-"Gosto de Brincar com o Fogo"; J. Palma.

** "Jeremias o fora-da-lei"; idem

*** "Washington usou armas químicas contra Fallujah" Manuela Paixão, D.N. 10/11/2005

**** in http://www.fas.org/man/dod-101/sys/dumb/mk77.htm





















































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algumas referências adicionais:

Aguiar, "O trono do Altíssimo".

Beverly Randolph, "Magia Sexualis".

Bergson, "Matéria e Memória".

Bion, "Experiencias com grupos".

Bion, "Uma memória do Futuro".

Calvino, "Seis propostas para o novo milénio"

Camus, "A Queda".

Camus, "O mito de Sísifo".

Darwin, "A expressão das emoções nos animais e no homem".

Deleuze, "O Mistério de Ariadne".

Deleuze, "Sacher Masoch".

Deleuze e Guatari, "O anti-édipo".

Eliade, "O Sagrado e o Profano".

Eliade, "Ferreiros e Alquimistas".

Engels, "As origens da familia, da propriedade e do estado"

Erasmus, "O Elogio da Loucura".

Foucault, "A história da sexualidade".

Foucault, "Vigiar e Punir".

Fulcanelli, "As mansões filosofais".

Freud, "Moralidade sexual civilizada e doenças nervosas modernas".

Freud, "Estudos sobre a Histeria".

Freud, "Moisés e o Monoteísmo".

Freud, "Totem e Tabu".

Freud, "O mal-estar na civilização".

Gilbert Durand, "Estruturas Anropológicas do Imaginário".

Herberto Helder, "Poesia Toda".

Herculano, "História da Inquisição em Portugal".

Kropotkin, "O Estado e o seu papel histórico".

Kropotkin, "Moralidade anarquista".

Kropotkin "Ajuda mútua".

Maquiavel, "O príncipe".

Marx e Engels, "O Manifesto Comunista".

Nietschze, "O Anti-Cristo"

Nietzsche, "Assim falou Zaratrusta".

Novalis, "Os Hinos à noite".

Pessoa, "O livro do desassossego".

Phillip K. Dick, "O Mistério de Valis"

Phillip K. Dick, "Vazio Infinito".

Phillip Roth, "O Seio".

Sade, "Os infortúnios da Virtude".

Sartre, "A Náusea"

Tryon-Montalembert, "A Cabala e a Tradição Judaica".

Teixeira de Pascoaes, "Aforismos".

Ursula Le guin "Trilogia de Terramar"

W. Reich, "Psicologia de Massas do Fascismo"

W. Reich, "A Função do Orgasmo".



9 comments:

ana said...

"Gosto de brincar com o fogo, deitar achas p'rá fogueira, gozar os truques da mente e confundir toda a gente"
mais ou menos o mesmo que eu gosto


é curioso.

Fata Morgana said...

Eu também gosto. E brinco.

Jo said...

ui ui ui... brincar com o fogo é perigoso... e por isso tão apelativo, claro!

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NARNIA said...

Gostamos todos de brincar com o fogo :)

[A] said...

Natura deficit, fortuna mutatur, deus omnia cernit

R. said...

Este post,a esta hora da noite,incendiou(me).

*****

[A] said...
This comment has been removed by the author.
[A] said...



então vê lá se te aguentas à party

Valquíria said...

Ora... Identifiquei Sade e Dita, mas... Fá-lo já (embora seja opcional)?