20080104

O próximo é bissexto, ou, mais 366 dias para viver ou morrer em LX [versão 0.03]



















Ainda a propósito do Rêveillon (e fica tudo dito):

Dei um aperto de saudade no meu tamborim

molhei o pano da cuíca com as minhas lágrimas
dei meu tempo de espera para a marcação, e cantei
a minha vida na avenida sem empolgação

Vai manter a tradição
vai meu bloco tristeza e pé no chão
Vai manter a tradição
vai meu bloco tristeza e pé no chão

Fiz um estandarte com as minhas mágoas
usei como destaque a sua falsidade
do nosso desacerto fiz meu samba-enredo
no velho som da minha surda dividi meus versos

Nas platinelas do pandeiro coloquei surdina
marquei o último ensaio em qualquer esquina
manchei o verde-esperança da nossa bandeira
marquei o dia do desfile para quarta-feira













Resolvi deixar de passar tanto tempo por aqui.

Isto pode divertido, sim, mas as desvantagens também tem que ser pesadas na balança.

Em primeiro lugar, apetece-me escrever mais "para mim", no "papel" digamos, e já nem sei se o consigo. Ponderar mais as coisas, ir mais para as palavras, mais para o "processo secundário".


Em segundo lugar, existem fenómenos "ciber-sociais" que me incomodaram bastante, e pessoas bastante desiquilibradas da cabeça que me chatearam bastante, porque em vez de fazer poesia visual, musical ou verbal, de aceitarem a sua loucura e confusão e encerrarem-na num espaço seguro (como é este blog)
resolvem querer passar o seu mal-estar para o mundo dos outros, seja que merda for para se esquecerem e fugirem da sua própria dor e desamparo e para evitar resolver os problemas que tem com as pessoas reais da sua vida.


Nunca aceitarei nem compactuarei com a cobardia,
com a violação da privacidade física e psicológica,
nem com a esperteza macaca das pessoas que decidem ser pequeninas e ser "pequenos filhos da puta" (vidé Alberto Pimenta) por dentro toda a vida.

A vida trará as respostas a todos.


Mas este factor não é muito importante, estes fenómenos de pessoas tristes a querer arrastar os outros para a sua tristeza acontecem em todo o lado, porque não haveriam eles de acontecer aqui?


Em terceiro lugar, e este é o factor mais importante: este blog foi um escape para o meu isolamento na ilha nórdica que referi.
Tornou-se a dada altura, mais específicamente, numa forma de comunicar à distância com duas mulheres sensacionais que eu amo e adoro, e que estavam longe, em Portugal,
assim escapar ao meu isolamento.

De lhes dizer de mim; dos meus sonhos acordado, dos meus sentimentos por elas, dos meus dilemas, confusões, ideias, imagens, do meu amor, da minha sedução, e do meu desamor.

Agora já estou onde elas estão, em LX, já não preciso disto para comunicar, posso vê-las quando quisermos.



Uma resolução de ano novo é portanto ir-me desligando disto.

O meu email está disponível para quem "realmente" me queira contactar.








...About that hour when the sun lets loose its light to warm the earth... Suddenly I saw three companies of dancing women, one led by Autonoe the second captained by your mother Agave, while Ino led the third.
There they lay in the deep sleep of exhaustion...led astray by the music of the flute, to hunt their Aphrodite through the woods.

[...]

First they let the hair fall loose, down over their shoulders, and those whose straps had slipped fastened their skins of fawn with writhing snakes that licked their cheeks. Breasts swollen with milk, new mothers who had left their babies behind at home nestled gazelles and young wolves in their arms, suckling them. Then they crowned their hair with leaves, ivy and oak and flowering bryony.
[...]

Then at a signal all the Bacchae whirled their wands for the revels to begin. With one voice they cried aloud: 'O lacchus! Son of Zeus!' 'O Bromius!' they cried until the beasts and all the mountain seemed wild with divinity. And when they ran, everything ran with them.
[...]

The Bacchae then returned where they had started, by the springs the god had made, and washed their hands while the snakes licked away the drops of blood that dabbled their checks.
















Há quase dois anos comecei este blog.
Nesse ano de 2006 passei o período de Natal a trabalhar e a gravar uma demo com a minha banda de então, numa ilha dos mares do norte. Exeptuando um jantar de véspera de natal de má memória com a excêntrica e solitária da minha chefe e os seus 2 fox terriers, e uma bebedeira de fim de noite com a B., uma paulista de origens arménias e com os amigos do namorado, passei esse Natal sozinho com a minha gata, com o meu trabalho, e com as canções do Jorge Palma.


Estava de novo no zero da minha vida, como se tivesse de me inventar de novo, e por isso me chamei 0.0, versão 0.0 como os programas de software. Os primeiro posts começaram com o titulo "0" e foram seguindo a numeração negativa, -1, -2, -3, porque eu estava a ir ao fundo de mim, era como uma descida.
Eis o primeiro post:




















Quando digo "kill your self", estou a assumir que "self" é uma entidade psicológica, a "pessoa", e não quero incitar com esta imagem ao "suicida-te".
Mas seja como for achei imensa piada ao contraste paradoxal do bonequinho smile com a frase terrível por baixo.
Este é o meu tipo de humor.

Seja como for, para além do choque emocional e desconcerto que a imagem legendada deve provocar (um pouco ao estilo do "ceci n'est pas une pipe" do Magritte), refiro-me aqui à morte simbólica da "pessoa" psicológica, do self, da persona no sentido grego antigo de "máscara de teatro". Persona-personae.
Penso que quem quiser perceber isto já deve ter lido Mircea Eliade, Fulcanelli, e outros estudiosos da transformação e metamorfoses humana.
As primeiras linhas do "Mito de Sísifo" de Albert Camus também são para aqui chamadas.





.





Escrever no blog, e escrever com imagens também, e com música, fez-me a pouco e pouco escrever menos no papel. Até que hoje em dia quase não escrevo no papel. Muitas vezes ponho-me a escrever directamente aqui, como agora.
Isso faz imensa diferença, e não é muito satisfatória a diferença que faz.


A princípio este blog era só para mim, para expressar as minhas coisinhas. Para deitar cá para fora os pensamentos e sentimentos, as opiniões proto-filosófico-politicas, para experimentar com imagens. Depois começaram a aparecer pessoas e eu comecei a achar piada aos ciber-conhecimentos.


Quando o blog era só meu, a diferença da escrita no papel era positiva. Podia colocar imagens nos escritos,
e o "scroll down" permite um certo efeito fílmico animado que as páginas de um livro não conseguem ter.
Acho que a grande diferença mesmo está na facilidade de usar imagens visuais. Ir pescar imagens visuais à internet a usá-las. Não precisar de fazer "imagens" metafóricamente com as palavras.

O meu estilo de escrita aqui, com as imagens visuais, é onírica a maior parte das vezes. Transmitir fantasias, cenários, ambientes interiores alucinados, como se se tratasse de um sonho acordado ou a dormir.
Por isso muitas vezes não parece fazer sentido.
A linguagem é a que Freud chamava "processo primário".



















Quando começam a vir os visitantes, a experiência torna-se diferente. Já não é sempre escrita privada, mas comunicações para este/a e aquela/e, desabafos, recados , declarações amorosas ridículas no sentido Pessoano, provocações eróticas, políticas, filosóficas, desafios, jactâncias dirigidas ao mundo, ao pequeno mundo. Torna-se um palcozinho, em vez de um claustro.

conhecemos "personae" virtuais, ciber-blogger-personae. desenvolvemos "relações" (interacções repetidas, consistentes e contingentes) mediadas pelo écran e o software dos computadores.

Acontecem coisas excitantes, comoventes, irritantes, reveladoras, surpreendentes. aprendem-se coisas, abrem-se caminhos, ideias, surpresas, choques.












Percebi que o tipo de relações que estabeleço com as ciber-blogger-personae são parecidas em estilo, em padrões, com algumas relações com personae "reais",
Por vezes, existem surpreendentes excepções e segue-se por caminhos de descoberta, comoção, reflexão e apego que não tinha experimentado antes.

No geral, no entanto, os padrões relacionais são parecidos com os padrões relacionais fora do computador, com pessoas de carne e osso, de quem sentimos o bafo e o cheiro, e vemos os olhos.

É interessante. É de facto interessante.
































Bom, já chega,
o lixo para o lixo, e "nothing takes the past away like the future, the future"

desejo um Feliz novo pacote de 366 dias para além do bem e do mal a todas e a todos.






















Me diz como fugir do que levamos por dentro (A.Carolina)

3 comments:

NARNIA said...

Zerinhos(gosto de te chamar assim) Sapinho verde.
Gosto de passear por aqui pela diferença,pela criatividade e inteligência, a metamorfose está sempre presente... Sobre o post de hoje, entendo quando dizes que escrever no papel te faz falta.
Como sou Melguinha irei enviando uns mails sempre que achar que vais gostar de os receber :)
Gosto de ti Zerinhos.
Votos de um 2008 Excelente.

[A] said...

ainda vou a tempo de quÊ???
hum..?!

tou com gripe e o meu nariz parece um tomate...aÇim não vou a lado nenhum!

Anonymous said...

E tudo re.começa.



O fim.


Não existe.


_____________/


Bacio per te.