20080314

A Sublimação do monstro e/ou a Sublime monstruosidade [versão 1.00]







Horror has a face... and you must make a friend of horror. Horror and moral terror are your friends. If they are not then they are enemies to be feared. They are truly enemies.







Etimologicamente, a palavra monstro deriva-se do verbo latino mostrare, que significa mostrar, tornar evidente. Sendo assim, Monstro é aquele que se mostra. Mostra ou torna evidente algo anômalo, que chama a atenção por se diferenciar do que é considerado normal.
O dicionário ainda define monstro como o indivíduo que causa pasmo, pessoa cruel ou horrenda. Em oposição ao belo, pode-se estabelecer a relação em que belo seria algo para ser visto, enquanto que monstro seria aquilo que se mostra.
Como a própria etimologia da palavra confirma, o monstro é aquilo que tem que ser mostrado, mas não pode ser dito ou descrito, porque inclassificável.



Grendles Modor e o Capitão Willard encontram-se no mesmo lago e dizem, agradavelmente surpreendidos: "olá, tu por aqui?".

Não. O capitão Willard vai em busca de Kurtz, um coronel dos boinas verdes perdido no meio da selva que saiu do controle dos generais, dirige uma seita estranha e deve ser eliminado. E cumpre a sua missão. Mata o "monstro", e torna-se ele mesmo num monstro.

A Mãe de Grendel emerge das águas para se confrontar com Beowulf que matou o seu filho monstruoso, mas em vez de o matar ou ser morta por ele, sedú-lo e concebe um novo filho dele, um monstro ainda maior e mais poderoso.

Isto não serve apenas para dizer que o encontro entre um homem e uma monstra é mais interessante do que um encontro entre um homem e um monstro...


The hearth of Darkness - Apocalipse now. O coração das trevas- Revelação agora

Subir o rio até à nascente ou descer à caverna para encontrar e confrontar os monstros imaginários.

Kurtz afinal não é um monstro, a mãe de Grindel também não. São os dois heróis,

tal como o capitão Willard e Beowulf são heróis. São todos heróis, manietados uns contra os outros por meias-verdades e emoções confusas e poderosíssimas.
Tanto Beowulf como Willard vivem atormentados o resto das suas vidas depois da "vitória".

Não é apenas a mentira aos outros, mas a mentira a eles mesmos que os atormenta, mas dessa última eles não sabem, a não ser pelo peso estranho que ganharam. Um peso que os prega ao chão.


Todo o "monstro" é um herói.
O pior medo é o medo de se procurar a sí próprio. A pior submissão é a de aceitar as "Verdades".
Todo o "herói" é um monstro.







I heard an ugly choking noise come from myself, and I saw the vomit spewing out onto the snow before I realized it was mine. The smell of wolf was all over me, and the smell of blood…


I was dreaming of the wolves. I was on the mountain and surrounded and I was swinging the old medieval flail. Then the wolves were dead again, and the dream was better, only I had all those miles to walk in the snow.


A voice said "Wolfkiller" long and low, a whisper that was like a summons and a tribute at the same time…





...the contributors to Monster Theory consider beasts, demons, freaks, and fiends as symbolic expressions of cultural unease that pervade a society and shape its collective behavior. Through a historical sampling of monsters, these essays argue that our fascination for the monstrous testifies to our continued desire to explore difference and prohibition.



I heard the many voices Speaking to me from the depths below...Come and drink of me


As "profundezas em baixo" diz a canção. Pressupõe que podem existir profundezas "em cima", the depths above. As profundezas acima e abaixo. O que está em cima como o que está em baixo. De facto, na realidade não existe absolutamente em cima nem em baixo, apenas o existem relativamente ao nosso plano, ao sítio onde os nosso pés estão agarrados.

Não sei se já experimentaram, ou realizaram, mas por vezes pensas que estás a ir para os "céus" e estás a ir para os "infernos", outras vezes pensas que estás a ir para os "infernos" e descobres o "céu".
Descobres, se ousares. Sustêm a respiração.





Instead, driven by the absurdity of the consequence to which such “split positions” (Overton, 1998) inevitably lead, our common contemporary obligation is broadly taken to be that of working out how selves “can embody both change and permanence simultaneously” (Fraisse,
1963, p. 10).

That is, if neither personal sameness nor personal change can be made to work alone, then we clearly need to arrive at some viable way of understanding selves as both simultaneously fixed and ongoing.






And then I realized... like I was shot... like I was shot with a diamond... a diamond bullet right through my forehead. And I thought: My God... the genius of that. The genius. The will to do that. Perfect, genuine, complete, crystalline, pure. And then I realized they were stronger than we. Because they could stand that these were not monsters. These were men... trained cadres. These men who fought with their hearts, who had families, who had children, who were filled with love... but they had the strength... the strength... to do that. If I had ten divisions of those men our troubles here would be over very quickly. You have to have men who are moral... and at the same time who are able to utilize their primordial instincts to kill without feeling... without passion... without judgment... without judgment.

2 comments:

[A] said...

e ousar "mostrar" é ousar Ser.
SÊ e votar-te-ás à solidão.

[A] said...

"Passei nove anos num asilo de alienados.
Fizeram-me ali uma medicina que nunca deixou de me revoltar.
Essa medicina chama-se eletrochoque
e consiste em meter o paciente num banho de eletricidade
fulminá-lo
e pô-lo bem esfolado a nu
e expor-lhe o corpo tanto externo como interno à passagem de uma corrente que vem do lugar onde não se está nem deveria estar
para lá estar.

O eletrochoque é uma corrente que eles arranjam sei lá como,que deixa o corpo,
o corpo sonâmbulo interno, estacionário

para ficar sob a alçada da lei
arbitrária do ser,
em estado de morte
por paragem do coração."

#

"As leis, os costumes lhes concedem o direito de medir o espírito. Esta jurisdição soberana e terrível, vocês a exercem com o seu entendimento.
Não nos façam rir. A credulidade dos povos civilizados, dos especialistas, dos governantes, reveste a psiquiatria de inexplicáveis luzes sobrenaturais. A profissão que vocês exercem está julgada por antecipação. ...

Todos os actos individuais são anti-sociais.

Os loucos são as vítimas individuais por excelência da ditadura social. ....

Sem insistir no carácter verdadeiramente genial das manifestações de certos loucos, na medida de nossa aptidão para apreciá-las, afirmamos a legitimidade absoluta de sua concepção de realidade."

Antonin Artaud, Carta aos Directores de Manicómios