20070107

Guest House



This being human is a guest house
Every morning a new arrival.
A joy, a depression, a meanness,
some momentary awareness comes
as an unexpected visitor.
Welcome and entertain them all!

Even if they are a crowd of sorrows,
who violently sweep your house
empty of its furniture,
still treat each guest honorably.
He may be clearing you out for some new delight.

The dark thought, the shame, the malice,
meet them at the door laughing,
and invite them in.
Be grateful for whoever comes,
because each has been sent
as a guide from beyond.

Rumi

20070105

e eis senão quando...




















...o bitchú que coxeia encontra o seu tempo
presente,
o seu presente.
No edredon da alma dela.











E eis senão quando, no pescoço, em vez de uma dentada do fantasmas dos natais passados, foi brindado com muitas lambidelas antisépticas nas feridas.
















desculpa meu amor eu ser coxo, e levar tanto tempo a sair do labirinto...dorme bem.





























Amo-te.










t

a

n

t

o




20070104

8 de Janeiro de 2005

Caminho em cima de uma linha férrea, adiando a exaustão, duvidando se a estação terminal, ou mesmo se a próxima estação ainda existe. Aí vou eu, onde vou eu? Não vou verdadeiramente para lado nenhum: afasto-me o mais que posso do sítio do trauma, devagar como um animal coxo. Fui magoado no sítio mais vulnerável, no centro dos laços, na fortaleza dos laços para sempre.

4 Janeiro de 2007

Há dias assim.
Dias em que o passado parece agarrar-nos pelo pescoço,
como um lobo
não vem pelas costas,
vem de frente
ao pescoço.
Apenas quer o que é dele,
o nosso destino, a nossa alma, o nosso futuro.

Apanha-nos desprevenidos,
sozinhos,
como qualquer predador
escolhe o bitchú que coxeia,

basta um escorregão,
um tropeçar,
olhamos para os lados
a nossa horda não está perto
afastamo-nos demasiado para beber

demasiado sequiosos.

descobrimo-nos

o passado espera no riacho.

Olá outra vez.
sabes que és meu. esqueceste-te, mas estou aqui para te lembrar.

Não, não sou teu. Tu fazes parte de mim, não o contrário.

Doces doces as ilusões dos mortais...

Sim, doces, doces ilusões, para balançar toda a tua amargura.

20061231

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A música do filme "Dead Man", composta e tocada por Neil Young, como banda sonora de uma foto do Pai Natal e suas renas mortos por um caçador:
O mundo onde vivemos é implacável e continua "cada vez mais" violento.
A grande violência é feita contra as ideias e as produções do espirito, da imaginação, da mente. A grande crueldade é feita pela indiferença, contra as bocas esfomeadas do coração.

Mas por mais brutal e cruel que seja o mundo, todos os anos lá vem as ilusões outra vez, o pai natal renasce nos miúdos, alguns, na sua inocência e ingenuidade, para ser morto de novo.
Tal como dizem que o Nazareno o fez, e as raízes de T.S: Elliot em Abril, e a vida depois do inverno.
E o Fogo, que tudo consome, exepto a água que tudo afoga, e de onde tudo brotou.

Talvez o mundo humano seja este equilibrio desiquilibrado entre a extrema brutalidade. a extrema dor. desespero, absurdo
e a extrema doçura, inocência, carinho e amor.
E nada há que possamos fazer contra isto, a não ser
sobrevivermos.
para continuar a espalhar no mundo aquilo que sabemos que vai ser morto em breve, talvez até por nós mesmos.


Isto ainda é mais terrível.
Mas parece-me verdadeiro.

Desejo-vos a todos e todas um novo ano mais verdadeiro, ainda que mais violento, mais doloroso, mas certamente também mais alegre e vivo.

Cá estaremos para afagar os cabelos grandes da dor,
para nos entregarmos ao colo e ao abraço onde tudo se funde, o grande caldeirão, e que refunda o que vale a pena.

E para a lascívia da liberdade e a luxúria da procura.


























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20061224






A minha prenda és tu.


desembrulhar-te e ler-te.

desembrulhar-te e usar-te na minha pele.

desembrulhar-te e Beber-te.

desembrulhar-te e comer-te.

eis o que me fará feliz.







Feliz Natal nas palhinhas a todos

20061219

support

[...]
Share my innermost thoughts, Know my intimate details Someone who'll stand by my side, And give me support And in return, She'll get my support, She will listen to me When I want to speak, About the world we live in, And life in general, Though my views may be wrong, They may even be perverted, She'll hear me out And won't easily be converted To my way of thinking, In fact she'll often disagree, But at the end of it all She will understand me Aaaahhhhh.... I want somebody who cares, For me passionately With every thought and With every breath, Someone who'll help me see things In a different light. All the things I detest I will almost like, I don't want to be tied To anyone's strings, I'm carefully trying to steer clear of Those things. But when I'm asleep I want somebody Who will put their arms around me And kiss me tenderly. Though things like this Make me sick, In a case like this I'll get away with it




Aaaahhhhh....





letra: "support" DM
photo> X at breakfast

20061215

assombro
s. m., aquilo que é raro, prodigioso;
terror;
espanto;
maravilha, prodígio.









querida

adj. e s. f., muito estimada;
aquela que é estimada ou amada;
predilecta.


20061107


Um belo filme.
A "maldade" veste-se bem e tem muito estilo. Explora os que a idolatram, exactamente como um vampiro, mas ao invés dos vampiros levanta-se cedo para trabalhar muito.
A "bondade" não é mais do que integridade e capacidade de amar. Tanto a maldade como a bondade são "tentadas" uma pela outra e deixam-se perder uma na noutra.
A "maldade" alimenta o mundo de uma vaidade tão extrema que se torna fealdade, a bondade alimenta o mundo de uma simplicidade tão extrema que acaba por realçar a beleza das pedras.


...
Um belo filme. contigo ao lado. sair do cinema de mão dada e ir para casa.

20061016

saturno













Esta noite sonhei oferecer-te o anel de Saturno
e quase ia morrendo com o receio de que não
te coubesse no dedo

















é verdade, querida, ainda tens o anel que te dei em santiago?


















texto:
in O POETA NU, JORGE DE SOUSA BRAGA, FENDA, 2º EDIÇÃO, 1999

roubado do site d'a barraca
http://bar-a-barraca.blogspot.com/

20061005

Sentei à minha mesa
os meus demónios interiores.
falei-lhes com franqueza
dos meus piores temores.

tratei-os com carinho,
pus jarra de flores,
abri o melhor vinho,
trouxe amêndoas e licores

chamei-os pelo nome,
quebrei a etiqueta,
matei-lhes a sede e a fome,
dei-lhes cabo da dieta.

conheci bem cada um,
pus de lado toda a farsa,
abri a minha alma,
como se fosse um comparsa.

E no fim, já bem bebidos,
demos abraços fraternos.
saíram de mansinho
aos primeiros alvores.
de copos bem erguidos
brindámos aos infernos
fizeram-se ao caminho
sem mágoas nem rancores

Adeus, foi um prazer!
disseram a cantar
mantém a mesa posta
porque havemos de voltar.








letra: Jorge Palma "demónios interiores", Norte.
imagem:
Martin Schongauer "António e os demónios"

20060928

ouvir










encontrei esta imagem num blog, num dos afluentes do grande ciber-labirinto sem centro, e roubei-a. Como uma serpente que rouba ovos. Roubei-a, quer dizer, multipliquei-a aqui. Como uma serpente que multiplica ovos.
Ouvir,
as ideias a serem engolidas pelo serpente do tímpano, sem lhes partir a casca.







20060926

esta noite sonhei que era um rio.






Um rio pequenino, é certo, que nada mais conhecia além das montanhas onde nascia, dos amieiros e dos juncos que nele se debruçavam.

Como todos os rios, o que eu mais ardentemente desejava era desaguar.
Comecei a perguntar onde ficava o mar, mas ninguém me sabia responder. Apontavam-me com um gesto vago ora o este, ora o oeste.
[...]

Uma noite em que estava acampado entre as dunas cheguei finalmente a uma conclusão (a mesma a que todos os rios chegaram talvez antes de mim): o mar não existia.




(e essa conclusão era salgada.)



















texto: Jorge de Sousa Braga, in "o poeta nú", pagina 107.
photo: Ben Heys

20060922

coyote and loki


"Coyote is the figure who appears most widely in Native American stories; he is without doubt the best known. The preeminent trickster, he may also take the role of culture hero, although the aspects of culture and life he introduces often have a negative side to them.[...]
Coyote's origins are not often told, but the Pima consider him the off-spring of the moon (see Tcu-unnyikita). He often travels with a companion, sometimes a brother, or with his family. Perhaps his most common companions are Fox (see also Achomawi Silver Fox, who is a cocreator with Coyote) and Wolf (see Wolf Creates the Earth, Paiute; and Sunawavi, Ute). Coyote also travels with the Alsea creator Suku, a bear, with whom he names all the things created. [...]"

http://www.english.uiuc.edu/maps/poets/g_l/louis/coyote.htm


'Loki' the trickster. Associated with darkness, hence a black/silver fox is appropiate. Loki is more or less associated with the element of fire and the primordial flames of rebirth. 'As personification of fire as well as mischief, Loki (lightning) is often seen with Thor (thunder)".

http://elfwood.lysator.liu.se/art/n/a/naryu/loki.jpg.html

20060921

I thank you for bringing me here












Milénio a milénio...


O universo encaminha-se para onde...?













































Para uma gota de suor no teu umbigo...









photos: X-umbigo por 0.0
texto: Zé Elias Nunes

20060918

Life...
is a waterfall we're one in the river and one again after the fall
swimming through the void we hear the word we lose ourselves but we find it all....
cause we are the ones that want to play always want to go but you never want to stay
and we are the ones that want to choose always want to play but you never want to lose.
aerials in the sky
when you lose your mind you free your life




Não vou dizer as coordenadas deste pedaço de paraíso onde ela me levou, porque afinal se trata de uma "zona de acidentes mortais", segundo a placa das entidades oficiais do parque natural.
Mas podem tentar adivinhar. Eu só direi frio frio ou quente quente, tal como o sol e a água.



when you free your eyes eternal prize

aerials, in the sky

when you lose small mind

you free your life

aerials, so up high

when you free your eyes eternal prize

20060907


Imagino-te prenhe do meu sémen. Barriga bola de sabão a reluzir ao sol do atlântico. Grávida de uma enorme azeitona. Vais parir azeite do mais puro grau de acidez, para temperar tomate maduro com oregãos, queijo de búfala com manjericão, e lábios com língua.
Se for rapariga chamar-se-há “azeitona sem caroço”, se for rapaz será “caroço de azeitona”.
Estamos com o azul cobalto, e azul do mar altlântico a banhar-nos os olhos, a luz dança na baía das nossas retinas numa autêntica alegria Nitschziana, numa alegoria sem tempo.
Falas-me em português com um sotaque estranho, vindo de outros tempos. dizes um silêncio do tamanho de uma tarde, uma tarde doce como um sorriso demorado, um silêncio em portugûes com sotaque estranho.
Eu sei que tu vais fugir esta tarde, eu tenho a certeza disso, mesmo prenhe, ou depois de parir, ou ainda mais tarde, eu sei que vais sair de mansinho um dia quando eu estivr a dormir ressacado de felicidade, e que nunca mais te vou ter, nem um bilhete teu.
Eu sei disso, e é saber isso que torna a dança de luz na tua tua barriga, e o banho demorado dos olhos no azul cobalto, tão precioso e interno.
Eu sei também que enquanto souber que tu vais fugir, enquanto eu não me esquecer disso, tu vais ficando.
E tu vais deixando aqui e ali pequenos sinais de que preparas a fuga, premeditadamente, para me ajudar a não esquecer que vais fugir um dia, porque sabes também que enquanto eu não esquecer isso tu vais ficando. Vais-te demorando, vais preparando a fuga com mais pormenor, com mais calma, a espaços cada vez mais longos.
Depois da azeitona nascer, depois de temperar a salada, depois de mais uma noite como aquela, depois do Inverno, depois do Outono.
Cada dia que passo contigo agradeço a Saturno teres-te demorado; agradeço e tento dar-te razões para te demorares, algumas das quais são deixar-te aqui e ali sinais de que ainda tenho a certeza de que vais fugir. Acaricio-te a pele cada vez como se fosse a última vez, observo o eriçar da tua penugem na nuca como se fosse a primeira vez, e a última, como se fosse um sonho, como se fosses um planeta visitado numa viagem alucinatória, e agradeço aos deuses todos antes de te começar a lamber o corpo, pelos pés.




20060905

encontrei um site com umas capas de discos fenomenais, de um gênero musical a que chamaram "space age pop". Esta aqui vem mesmo a propósito. A contagem decrescente para a viagem à lua cheia nas terras encantadas já começou; os reactores estão a aquecer, os bidons de combustivel estão cheios, o foguetão está na plataforma de lançamento. Quando era puto queria ser astronauta. Agora, finalmente, tenho uma lua só para mim.

20060904

The Hunger







De pé, ó vítimas da fome!
De pé, famélicos da terra!
Cortai o mal bem pelo fundo!



Messias, Deus, chefes supremos,
Nada esperemos de nenhum!

Sejamos nós quem conquistemos

A Terra-Mãe livre e comum!




Querida...quero inundar-te de amor por dentro, meu amor.
Sente o meu carinho a entrar dentro de ti quando respiras.
Relaxa e inspira profundamente, suavemente,
eu estou no ar,
sou o oxigénio.
que entra no teu sangue
amo-te.











textos

do hino "A Internacional"
sms para X algures no verão
imagens
angelina jolie



20060903

Bestial Love (um Amor Bestial)



Yea, though I walk through the valley of the shadow of death,
I will fear no evil:
for thou art with me;









Sabes, X, Voltei a deparar-me com aquela citação de Bion, que te enviei por sms no dia em que tudo começou entre nós.


The inescapable bestiality of the human animal
is the quality from which our cherished and admired characteristics spring
.

Agora temos mais um poema para estudar, um poma para nos para nos guiar, através do vale das sombras, nas terras mágicas, através dos caminhos da nossa bestialidade e da nossa beleza, ambas inocentes, e as encruzilhadas da nossa inteligência e do nossa consciência, ambas .culpadas.




I was sent forth from the power,
and I have come to those who reflect upon me,
and I have been found among those who seek after me.
Look upon me, you who reflect upon me,
and you hearers, hear me.
You who are waiting for me, take me to yourselves.
And do not banish me from your sight.
And do not make your voice hate me, nor your hearing.
Do not be ignorant of me anywhere or any time. Be on your guard!
Do not be ignorant of me.

For I am the first and the last.
I am the honored one and the scorned one.
I am the whore and the holy one.
I am the wife and the virgin.
For I am knowledge and ignorance.

[...]

I am shame and boldness.
I am shameless; I am ashamed.
I am strength and I am fear.
I am war and peace.
Give heed to me.
I am the one who is disgraced and the great one.

[...]

For I am the wisdom of the Greeks
and the knowledge of the barbarians.
I am the judgement of the Greeks and of the barbarians.
I am the one whose image is great in Egypt
and the one who has no image among the barbarians.
I am the one who has been hated everywhere
and who has been loved everywhere.
I am the one whom they call Life,
and you have called Death.
I am the one whom they call Law,
and you have called Lawlessness.
I am the one whom you have pursued,
and I am the one whom you have seized.
I am the one whom you have scattered,
and you have gathered me together.
I am the one before whom you have been ashamed,
and you have been shameless to me.
I am she who does not keep festival,
and I am she whose festivals are many.
I, I am godless,
and I am the one whose God is great.
I am the one whom you have reflected upon,
and you have scorned me.
I am unlearned,
and they learn from me.
I am the one that you have despised,
and you reflect upon me.
I am the one whom you have hidden from,
and you appear to me.
But whenever you hide yourselves,
I myself will appear.
For whenever you appear,
I myself will hide from you.






Sim, não teremos medo de nenhum Mal. Não porque estejamos protegidos por "Deus", mas porque conhecemos o Bem e o Mal, e passámos para além. Agora vamo-nos portar bem mal
Vamo-nos portar (para além do) Bem (e do) Mal

:)








Textos:
Psalm 23 of King James
Bion, Attention and Interpretation, capitulo 6, paginas 65-66.
Excerto de "Thunder Perfect Mind"
Imagens:
Luis Royo Dreams 29, 47
Walter Crane Beauty and the Beast (Routledge, 1874)