20080921

maçãs, roseiras e cicatrizes













...sem motivo nenhum, lutou erguendo a cabeça com certo brio.
É que alguma coisa branda e insidiosa se misturara a seu sangue, e ela se lembrou de como se falava de amor como de um veneno, e concordou submissa.

























Era alguma coisa adocicada e cheia de mal-estar.
Que ela, conivente, reconheceu com suavidade supliciada como uma mulher que apertando os dentes reconhece com altivez o primeiro sinal de que a criança vai nascer.

Reconheceu, pois, com alegria e impassível resignação, o ritual que se fazia nela. Então suspirou: era a gravidade pela qual ela esperara a vida inteira.


























Depois, como uma mulher que se torna desordenadamente activa em momentos críticos, imprimiu mais força na espiga crua...

...num segundo perdido entre milhares de outros na vastidão do campo, sujeita à lei da única célula que se fecunda entre as que fenecem, ela acabara de saber, como se escolhesse, que o amava.


























Por uma obscura necessidade de preservação, estava procurando recuperar no campo aquele minuto em que ela ousadamente aceitara amar o homem: procurava recuperar o minuto para destruí-lo.


























Mas, estonteada, talvez soubesse que também a necessidade de destruir o amor era o próprio amor porque amor é também luta contra amor, e se ela o soube é porque uma pessoa sabe.




























Procurou, desesperada e ofendida, aquele minuto que já agora nunca mais ela saberia se fora fatal a ponto de submetê-la - ou se nesse minuto ela própria fora tão extremamente livre que, numa gratuidade que já era pecado e que depois se pagava...









































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texto: "A Maçã no Escuro", C.L.
fotos: autor desconhecido. Modelo: Scar 13
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2 comments:

Avid said...

Viveres...
Bjs meus

[A] said...

Estas moçoilas matam-me.
Scar 13????

Parece nome de thriller de um dia de Domingo.