20070917

Creatures Like us: Luis Felipe, Carolina e outros bixos da relva (0.03)


Oh ! monsieur, ...il n'y a donc plus ni honnêteté ni bienfaisance chez les hommes? (Justine)


















1. De um certo ponto de vista, ela fez o que já nenhum homem conseguiria fazer, ou teria coragem para fazer: tramar Roger Rabbitt, ou melhor Roger Chicken, digo, Roger da Costa, ou lá como é que a criatura se chama.
Nesse ponto de vista, a que se poderia chamar "era uma vez um Sultão Vilão que tinha uma concubina chamada Carolina", ela faz parte de uma mitologia de mulheres fatais que tentam entrar a matar no jogo do poder das cúpulas.

Ainda nesse ponto de vista, e esticando bastante o exagero pelo que espero que me perdoem em nome da alegoria, ela é uma espécie de Maria da Fonte, uma Boudica, ou uma Joana D'Arc que impõe uma pesada derrota numa batalha a um general poderoso.

Certamente que as suas motivações serão puramente emocionais e afectivas (vingança, despeito, ambição, orgulho, arrogância) e não propriamente politicas e revolucionárias (vingança, despeito, ambição, poder, orgulho, arrogância)...
Afinal trata-se de uma mulher simples (vejam-se mãos e as unhas de perto clicando na imagem abaixo)
e afinal trata-se de uma mulher que "escolheu" a via da feminilidade e da filosofia da alcova em vez da via da masculinidade, e da filosofia militar.

Mas como Joana D'Arc e Boudica, heroína comedora de homens e sultões num mundo governado por homens, provavelmente vai ser queimada em hasta pública.
Foi giro ver o Sultão a levar nas costas durante um tempo, mas há que voltar à vida normal e ao "principio da realidade"... se não onde é que iríamos parar. Uma reles concubina do "Calor da Noite" a pôr em causa o aparelho de poder macho de todo o Douro e arredores, incluindo o Major Ladrão e o Cônsul da Guiné?

Até a própria irmã ensonsa salgado vai aproveitar para por as contas em dia no que respeita à rivalidade infantil com a irmã pecadora e que rouba toda a atenção dos pais,
assim à laia de uma Justine nos "Infortúnios da Virtude" do Marquês de Sade.

E se isto acontecer o povo vai urrar de alegria e júbilo com o seu suplício.
Quem lhe poderá perdoar a ousadia? Se se for o nosso senhor Jesus Cristo.


2. Sim, ele mandou-lhe um soco, sim ele aderiu à cultura futebológica Portuguesa que resolve as frustrações a soco, cabeçada, chaves de judo, com grandes efemérides como Sá Pinto a esmurrar Artur Jorge, João Pinto a Socar os intenstinos de um àrbirtro, Luis Figo a cabecear um adversário, e muitas outros momentos de testosterona com cheiro a entremeada e sardinha assada.

Sim, ele passou uma imagem truculenta, infantil, irresponsável e impulsiva-agressiva de Portugal, por acaso acertada e verdadeira, e sim, ele devia ser despedido por isso. Claro que sim, apesar de ele ter feito o "favor" de difundir pelos satélites a natureza do nosso país. E o facto de ter sido desculpado e condescendido pelos dirigentes tecnocráticos só prova que o comportamento dele faz parte do que somos, dentro e fora dos gramados.

Sim, num país civilizado isto não aconteceria, nem o soco do treinador da equipa que representa a Nação, nem a sua manutenção no cargo.

Num pais civilizado, e em cidades desenvolvidas no norte, os diferendos resolvem-se pelo telefone, por terceiras pessoas, em código, resolvem-se com transferências bancárias e ameaças diplomáticas, em iates fora das águas territoriais e as conversas são temperadas com dinheiro da venda legal de armas e de petróleo.

Á medida que vou conhecendo os procedimentos daquilo a que se chama "mundo civilizado" e "civilização" vou ficando cada vez mais desconfiado dessa definição.

No dia 6 de Agosto de 1945 houve uma enorme explosão de civilização, em que um país dos mais civilizados do mundo ocidental brindou um outro país dos mais civilizados do mundo oriental com uma efusiva demonstração de civilização em forma de cogumelo, e tudo por causa de um outro país, da mais alta idoneidade civilizacional e berço das mais altas produções intelectuais civilizadas de sempre, resolveu convencer por meios enfáticos fruto de processos civilizados de produção e gestão dos recursos humanos os outros países civilizados de que a sua noção de civilização era mais superiormente civilizada.

E é assim,
os grandes senhores civilizados não podem resolver as suas frustrações sexuais e despejar a sua testosterona reprimida, ao soco na tromba uns dos outros, como fez o ex-campeão do mundo de football com aquele gajinho eslavo histérico mal educado, em vez de andar a estripar e transformar em hamburgeres estorricados as alminhas que são supostos representar e que lhes pagam a vida de luxo que levam????

A próxima vez que me vierem falar de atos civilizados mando esse alguém ir jogar bridge para um campo de minas da melhor fabricação britânica e francesa para os arredores de Kabul ou de Maputo.







3. Chamei ao último post "Free Tibete, Free world, free mind" porque o Tibete livre só pode acontecer quando o mundo for "livre", e o mundo só será livre quando uma grande maioria das mentes humanas for "livre".
Antes disso as pessoas vão continuar a aceitar genocídios, tiranias, e abusos como coisas normais, legitimadas por duvidosos e ilusórios valores. Claro que falar no mundo "livre" abre a enormes equívocos suscitados pelas diferentes interpretações da palavra "livre" e "liberdade". Quando falo no mundo livre falo num mundo em que as acções humanas não estejam espartilhadas pelo poder político militar e policial, e esse poder é legitimado em primeiro lugar pelas ideias e valores que aceitamos e interiorizamos.
Assim, deveria ter chamado ao post anterior "free mind, free world, free tibet".
A minha noção de mundo "livre" é muito "simples", e é a mesma que os representantes do mundo inteiro redigiram depois da grande festa da estupidez, da obediência e do sadismo, depois da grande vingança dos homens humilhados que foi a segunda guerra mundial:










Whereas disregard and contempt for human rights have resulted in barbarous acts which have outraged the conscience of mankind, and the advent of a world in which human beings shall enjoy freedom of speech and belief and freedom from fear and want has been proclaimed as the highest aspiration of the common people [...]








Portanto: Liberdade de discurso, de crença, liberdade do medo e liberdade da penúria.

Mas como estas coisas são tão complicadas e polémicas, e se misturam com os medos e as ansiedades mais escondidas e não-ditas de cada uma das pessoas, e se misturam com aquelas partes negras e sádicas que se escondem dentro de cada criança dentro de cada pessoa, aquelas partes que tiram gozo em que outro alguém esteja a ser torturado, outro povo chacinado,
pois a desgraça de uns é o gozo de outros,
pois o medo de ser livre provoca o orgulho de ser escravo,
pois o medo de ser responsável provoca o ódio à liberdade e o carinho pelos carrascos,

(pois "o homem é o único animal que" se reconhece ao espelho por fora e não se quer reconhecer ao espelho por dentro)

a maior parte das vezes mais vale falar de futebol.

E sobre isso há muito para falar...
e é sobre isso que hei-de escrever mais logo. Porque me apetece.










5 comments:

Art&Tal said...

Kropotkin?

claro que sim

Maria Ostra said...

Muito bem. Nunca tinhas sido tão directo...
Estão cá todos os acentos, as vírgulas, as recitências e os sublinhados.
Bom texto!

NARNIA said...

TOUCHÉE!!!

_E se eu fosse puta...Tu lias?_ said...

Adorei o sarcasmo...e o hino!!!!!


qt a uma frase de topo..."Resisto a tudo menos à tentação"

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Anonymous said...

gostei das imagens re.criadas.

& da palavra.


Imag.H.ino.



Beijo