as estrelas
que guiam o caminho
da sua própria existência *
Vamos encontrar esqueletos semi-mortos que choram e nos querem agarrar,
e monstrengos horrendos a chuchar no dedo com falta dos pais.
E quando nos vêem, talvez avancem para nós hesitantemente,
como animais ao mesmo tempo esfomeados de nós e receosos connosco,
e quando, a tremer de horror,
nos aproximamos deles porque estão no nosso caminho
talvez se dê o caso de que percebemos com espanto e alívio que são, afinal, como nós-mesmos,
representam coisas horrendas que podem acontecer às criaturas como nós,
coisas que queríamos esquecer que nos podem acontecer
e criaturas que queríamos matar e que sobreviveram à violencia,
criaturas que comemos aos bocados, e que ainda assim sobreviveram,
criaturas que foram estupradas e depois chacinadas em nome dos valores que defendemos,
e cuja memória sobreviveu para nos assombrar até à noite da eternidade
e monstrengos horrendos a chuchar no dedo com falta dos pais.
E quando nos vêem, talvez avancem para nós hesitantemente,
como animais ao mesmo tempo esfomeados de nós e receosos connosco,
e quando, a tremer de horror,
nos aproximamos deles porque estão no nosso caminho
[O filme "Ringu" de Hideo Nakata é, na minha opinião, uma das obras contemporâneas mais importantes para entender a natureza do Mal, do medo, do pavor interno, da claustrofobia emocional e da redenção pela descida ao "poço iniciático" (aquilo a que os estudiosos de alquimia chamam "v.i.t.r.i.o.l.u.m."). É também, penso, uma metáfora arrepiantemente velada sobre a situação da sociedade e cultura japonesas pós-atómicas, ou seja, sobre os fantasmas não enfrentados da submissão à "superioridade" técnica judaico-cristã-anglosaxônica ocidental. A nós, burgueses "ocidentais", falta-nos também enfrentar esses fantasmas e descer a esse poço.]
talvez se dê o caso de que percebemos com espanto e alívio que são, afinal, como nós-mesmos,
representam coisas horrendas que podem acontecer às criaturas como nós,
coisas que queríamos esquecer que nos podem acontecer
e criaturas que queríamos matar e que sobreviveram à violencia,
criaturas que comemos aos bocados, e que ainda assim sobreviveram,
criaturas que foram estupradas e depois chacinadas em nome dos valores que defendemos,
e cuja memória sobreviveu para nos assombrar até à noite da eternidade
se deus não eliminou o Mal, ou é porque não Pode ou é porque não Quer. (Epicuro)
E, quem sabe, se não vamos ver o diabo, de costas, a pregar partidas aos mortais, partidas de que só ele e os demónios se riem porque os humanos são lentos demais do espírito para perceber as piadas. E nesse caso vamos tentar que ele não nos cheire rísiveis no nosso orgulho e esperteza, e que nos tome por mais um bicho qualquer pois ele é cego (cego de tanta luz olhar de frente), e com a sua língua bífida nos conte segredos, escondidos por deus, sobre como os homens e as mulheres, e os homens e os homens, e as mulheres e as mulheres, foram feitos para se desentender.
Obscurecer esta Obscuridade, eis a porta para toda a maravilha. (Lao Tzu)
Meu (Minha) amigo(a), trouxe-te até aqui e já vais saber porquê.
Nunca consegui comunicar contigo verdadeiramente. Quando te começava a sugerir uma ideia do mal de que padeço tu desviavas a conversa, não querias sequer deixar-te tocar por este horror que nunca viveste mas tanto temes. E assim a parte mais importante, e ao mesmo tempo mais secreta de mim, ficava por comunicar.
Amo-te e preciso que me compreendas. Já percebi que não é possivel fazê-lo por palavras.
Trouxe-te aqui para to transmitir directamente, para te fazer mal. **
[...] Percebi que nunca encontraria uma nova casa porque as paredes da minha casa de infância faziam parte meu corpo. Transportava-a para todo o lado. Percebi depois que a minha casa assustadora e opressiva era, e sempre fora, nada mais do que o meu opressivo e assustador caixão. Percebi que estava de facto morto e que era uma alma penada. E que, julgando percorrer o mundo em busca do meu sitio para habitar, estava na verdade a percorrer o mundo em busca do meu corpo para encarnar. ***
Nesse momento poderemos talvez estar às portas
do «espaço edénico
(...)
criado no meio da Coisa,
como um duplo feito de novo e de desordem» ****
_________________________________________________________________________________________________________
** "Porquê o Mal?" por José Elias Nunes
*** in "A casa assombrada" por José Elias Nunes
**** in «O Espaço Edénico» de Maria Gabriela Llansol
O resto: versão 0.03
5 comments:
Desafio no meu blog;)
Deves ser Bom na Cama ...risos...
espero que aceites e te divirtas!
parece que o todo ou o tudo é assim a soma das partes.
por muito que doa.
~
parece que o todo ou o tudo é assim a soma das partes.
por muito que doa.
~
Vi o filme.
& nada tenho a acrescentar ao que já foi escrito.
a não ser um ponto final.
.
e construir um outro parágrafo para dizer-te da beleza das fotografias.
Simbiose palavra&imagem.
Gosto dessa tensão.
São as ar.tes.
_______________
E o beijo.
( depeche mode no outro canto da sala,feels good to hear it.)
Se eu fosse puta: hum... como é que se responde a isso...?
Acho que depende da parceira e da intimidade que se desenvolve, e das hormonas, se se encaixam ou não, ás vezes é bom, outras vezes não, outra vezes é óptimo!
Undress: doi mesmo muito. Mas ás vezes não há cura rápida para os doi-dois da carne e da alma... temos de tentar não deixar infectar e aguentar.
Ela: isto por aqui está numa de exploração das sombras, mas a como tu bem sabes a beleza mexe-se entre a sombra e a luz,
como uma
s
erpente
voadora,
ou uma brisa
ciclópica.
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