20070524

V. (excertos de uma penetração mútua nos labirintos)











Se tivessemos tido a conversa de ontem à noite há uns tempos atrás eu teria morrido de excesso de significado com o que tu me contaste e com o que eu te contei. E tu terias tido um ataque de asma e ido para o hospital em coma.
No mundo dos homens, no colégio das freiras, a primeira relação homosexual platónica "mas vocês beijaram-se? Não, não foi preciso, a emoção de olharmos a vista daquela janela para o mar, com a coluna ao meio e de olharmos uma para a outra foi suficiente"... (ha, não sabes o que
perdeste, pensei eu...ou melhor, sabes, e por isso te arrependes tanto. Não o padre, mas o demónio dos lábios diz "arrepende-te cobarde", e o demónio do coração diz "arrepende-te mentirosa, tu amava-la perdidamente")

A culpa de existir, dizes tu.

E foi pela gaja que eu deixei o que estava a construir contigo..."é muito dificil não sucumbir à tentação de foder os homens, de não nos entregarmos ao ódio". Ha confessaste! Mas eu já sabia, mais do que desconfiava, eu sabia.
As mulheres portuguesas estão triplamente dominadas. Pela igreja e pelo fascismo (que a todos domina), pelos homens domiinados que dominam as mulheres, e finalmente por elas próprias. O ódio e a destruição dos homens é o que resta para a vingança. é o poder da impotência, disse eu, e ela, depois de muito pensar e corar daquela maneira total, como só ela cora, como um camaleão, como se estivesse a ferver de magma por dentro, disse "o poder da impotência...".
...
"eu acho que a relação até foi positiva para ele" os seus longos dedos abraçavam-se angustiadamente, e ela confessava... "ele pelo menos acabou por deixar a mulher, por se libertar de uma relação que estava morta..." tentava convencer-se a sí própria. Não aceitava que se tinha entregue. "Eu precisava de sexo... e ele precisava de sexo, tinha uma relação compulsiva com o sexo, com o alcool, com estimulação, porque era demasiado rudimentar por dentro". Tentava convencer-se que não tinha feito nada de pecaminoso, mas eu sentia que ela se estava a confessar. Não aceitou que precisou de destruir um casamento, não aceita que odiava a mulher dele por ser tão boa(zinha) e tão cega por opção, não aceitava que o odiou por não ser "homem suficiente" e por não a amar o suficiente.

Destruiste um casamento...? (eu sorri, tu destruíste um casamento V. admite, és diabólica! disse eu com ironia jocosa)

E alguém, uma incógnita, X., destruiu o nosso "casamento"; Pelas mesmas razões que o fizeste
. Ódio, ciúme, sexo, poder, lascivia, agressão, crueldade, os pecados mortais. E eu disse-lhe, "sabes, eu acho que essa culpa de existir, para além de todos os "pecados", não é mais do que um truque. Eu sei, eu conheço isso". Temos culpa da lascívia, do ódio, da raiva, da agressão, do sexo pelo sexo, da crueldade, da vontade de assassinar por capricho. Chamamos-lhe o Mal. A única solução é entregarmo-nos com inocência, sem cálculo.
...

"Fantasias inconfessáveis, secretas..."

"Tais como...?"
"Deixariam então de ser secretas..." (sorriso muito...)
(não lhe pude contar que o nosso passatempo favorito, X. era relatar e negociar as nossas mais secretas fantasias enquanto faziamos amor, no meio dos gemidos, da voz enrouquecida e do suor e do cheiro,
enquanto fodíamos horas e horas, mais do que embriagados, metamorfoseados num só ser. Não lhe pude contar que essas fantasias que ela tinha pudor em admitir, pudor e poder em manter secretas, [...] ).
...
XXX
["AS GAJAS". O título do email mais deliciosamente depravado e perverso que ela me mandou. Tão inocente, tão...ela]


"eu não tenho medo de ti", disse V. "Eu apenas escolhi não ir por aí", uma decisão racional; "teria medo se me voltasse a envolver contigo e sentisse a situação fugir-me outra vez fora do controlo", "contigo sinto o mesmo que em frente a uma pista de sky demasiado inclinada, escolho não ir por aí porque acho que não vou ser capaz de a fazer sem me espalhar".
"Isso é medo", disse eu, "é diferente do terror e do pânico de estar numa situação perigosa fora do controlo".


Entregar-se ao outro, ao supremo desconhecido (pânico, pan, the pan within).

Mas se tu metes medo aos homens, só os destemidos se conseguem chegar a ti, e os destemidos por sua vez fazem-te medo"...
"Não são apenas os destemidos...". "Sim", disse eu, "também os tontos." E por vezes é tão dificil distinguir um destemido de um tonto não é V.? Silêncio.
...
Se tu te continuas a atrair por esse tipo de mulheres...vais ter de aprender a permanecer, a ser Quase-Perfeito.
Eu olhei para ela, sorri, e disse "quase-perfeito? Tu não me lances esse desafio V."
Mas "Essas mulheres?" "Como é que tu disseste um dia...aperaltadas, apinocadas..."
"Sim, com a mania que são espertas!"

"Sim, com a mania que são espertas,
exactamente como tu V."
(corou toda outra vez...)

A única diferença é que tu tens a pele demasiado fina, V., sentes-te facilmente violentada, e precisas de te proteger. Tu não vais à luta V. E precisas de tempo, de muito tempo.

Nunca teriamos tido a conversa de ontem à noite antes de eu te ter sido roubado por uma como tu. Antes de teres sofrido horrores mais uma vez, antes de eu te ter comido dia sim dia não com ela, antes de eu e ela nos termos entregue à bestialidade mais carinhosa, lasciva, inocente e cruel, e depois de eu próprio ter sofrido horrores às suas mãos, e de me ter vingado fazendo-a sofrer horrores às minhas mãos,
e depois de termos todos, afinal, sobrevivido (inclusive o tonto da história, suficientemente filho da puta para suplantar o facto de não ser destemido [e ainda bem, para mal das manchetes do correio da manhã...]).

Antes disso teríamos eu e tu fornicado, uma e outra vez, por todo o lado, e espumado em sexo no meio da nossa ignorância e da nossa distância. O que não seria mau...mas teríamos ficado à porta do labirinto um do outro.

e o resto é demasiado escabroso e ao mesmo tempo óbvio...para vocês 2 que andaram nesta conversa.


Quanto mais conheço os homens, mais gosto das mulheres.



13 comments:

sonho said...

alô, alô! fantástico!...

o amor, o sexo, o desejo e, também, a perversidade com base no género ou pelo/com o outro género ou, antes, o amor pelo amor... a perversidade pela perversidade...

discussão interessante... quem nunca sentiu desejo "incorrecto"?? pelo amigo de anos, pelo "gajo" da amiga ou pela "gaja" do amigo?!...

pois é, pois é, é tudo legítimo, somos todos muito liberais, até ao momento em que nos dói na pele...

volto à minha, o que interessa é a pureza do sentir e ir caminhando ultrapassando os obstáculos em busca dessa LUZ... o resto que se lixe... preconceitos de género ou homofobias... --^-^--

beijo grande.

*

a.carolina said...

Acabei com tudo, escapei com vida, tive as roupas e os sonhos rasgados na minha saída.
Mas saí ferido,sufocando o meu gemido, fui o alvo perfeito, muitas vezes no peito atingido.
Animal arisco, domesticado esquece o risco, me deixei enganar e até me levar por você.
Eu sei quanta tristeza eu tive, mas mesmo assim se vive, morrendo aos poucos por amor.
Eu sei, o coração perdoa, mas não esquece à toa, o que eu não me esqueci.
Eu andei demais, não olhei pra trás, era solta em meus passos, bicho livre sem rumo sem laços.
Me senti sozinha, tropeçando em meu caminho, à procura de abrigo,uma ajuda um lugar um amigo.
Animal ferido, por instinto decidido, os meus passos desfiz, tentativa infeliz de esquecer.
Eu sei que flores existiram, mas que não resistiram à vendavais constantes.
Eu sei, as cicatrizes falam, mas as palavras calam, o que eu não me esqueci.
Não vou mudar, esse caso não tem solução, sou fera ferida, no corpo na alma e no coração.
Eu sei que flores existiram, mas que não resistiram à vendavais constantes.
Eu sei, as cicatrizes falam, mas as palavras calam, o que eu não me esqueci.

(Fera Ferida)

http://www.youtube.com/watch?v=8jJZMruici4


beijo.

sonho said...

:)

Pássaro Proibido
Maria Bethânia
Composição: Caetano Veloso e Maria Bethânia

Solto estáo pássaro proibido
Perigo, cuidado, sinal nas ruas
Plumagem clara e brilhante
Ao sol e a lua transparente
Ao corisco e a maré, ao corisco e a maré
Eu canto o sonho na cama
Do jeito doce e moreno
Eu canto
Pássaro proibido de sonhar
O canto macio,olhos molhados
Sem medo do erro maldito
De ser um pássaro proibido
Mas com o poder de voar, mas com o poder de voar
Eu canto o sonho na cama
Do jeito doce e moreno
Eu canto
Voar até a mais alta árvore
Sem medo, tranquilo, iluminado
Cantando o que quer dizer
Perguntando o que quer dizer
O que quer dizer meu cantar, o que quer dizer meu cantar


:)

1.01 said...

Obrigado, muito.

beijos

http://www.finetune.com/playlist/1304228

A. said...

http://bp2.blogger.com/_JmudRMpMOak/RleVakZfVMI/AAAAAAAABJU/eVp2UQck8o4/s320/pto_OS_V_02.jpg











...vale.as penas, meu f.?

f.aith.

e deixa-te.

voar.

primeiro....e como[ela]sempre diz___________________________
______________________________
______________________________
______________________________





_________________________siga!


http://ask-im.blogspot.com/2006/11/o-d-es-e-j-o-qu-nd-o-mo-r-r-e-p-er-d-e.html












beijo, meu querido.e de volta.

1.01 said...

Despe e siga, não havia uma banda chamada assim?

Grande beijo hitcockiano...
*

1.01 said...

What moves me is desire and alucination (vision?)

what makes me sharp is spirit and thinking
a lot

what makes me fall is Death

What makes me jump is
faith

always
in everything

Faith in
O







Fight fire with fire
The only way to contain a firestorm

A. said...

...és bonito.e doce.








sabes disso.não sabes?

...sabes sim!!

1.01 said...

Isso é o que eu chamo ser linda e doce...

Quando é que apareces lá no sítio?
A proxima semana vou estar quase sempre em Amsterdão.

1.01 said...

Sonho:

eu vejo isto mais como um ciclo de karma e ignorância que se perpetua,
e já vem de gerações anteriores.

Por exemplo, V. descobriu depois da mãe morrer que os seus pais viviam uma vida dupla...
apesar de serem uma família estável, um casamento duradouro (até que a morte os separou), quadros superiores da saúde e do sistema financeiro, cada um deles tinha um amante, e era do conhecimento mútuo.

Viviam uma vida dupla, a qual V. só descobriu com a morte da mãe, e depois de confrontar o pai sobre quem era aquele homem que ela nunca tinha visto agarrado ao cadaver da mãe a chorar convulsivamente e pronto a ir para a cova com ela se o deixassem, enquanto o viúvo esboçava uma careta de embaraço e se agarrava ao bigode para manter a aparência do funeral.

Outros personagens desta história "fictícia" que eu aqui inventei...como aliás de costume... (tudo é sonho)...
tens histórias familiares conturbadas, com divórcios, traições, vinganças, esgotamentos, depressões, violações, seduções incestuosas realizadas ou não, ódio mortal aos progenitores, abandonos...incluindo um tal de 0.02 que só existe na minha cabeça.

Preversão pela preversão?

Não, caminho pelo labirinto, conhecimento pela experiência, consumação de destinos, coragem, loucura, medo...
tanta coisa menos preversão pela preversão,
infelizmente,
e se calhar não.

"Fuora della chiesa non cé salvezza"

fuck salvezza! We want the world and we want it now.


Fuck the church, we want the forest, the woods, we want the "church" of beasts, sweet and inocent beasts.

(by the way, casei-me pela primeira vez debaixo de uma árvore)
Numa igreja, só se fosse abandonada.

sonho said...

hum... excelente tema de reflexão... mais tarde...

por ora


http://www.emat-tucson.org/Bulgaria/EMAT.html

um beijo.

1.01 said...

Que coincidência, acabei de comentar no teu blog.

Maria Ostra said...

PORRA!(again :/)